Há duas semanas, escrevi sobre "Betty Blue" para corrigir uma das injustiças da Liga dos Blogues Cinematográficos ao não incluí-lo entre os - pelo menos - 50 melhores filmes dos anos 80. O post de hoje é para reparar outra grande falha. "A festa de Babette" - que ganhou Oscar e BAFTA de melhor filme estrangeiro e teve seu diretor premiado em Cannes - é daqueles filmes encantadores - uma fábula, quase, sobre um jantar que desperta sentimentos escondidos e revela outros tantos nunca imaginados pelos habitantes de um vilarejo na Dinamarca. Tal proesa é executada por Babette, a chefe de um famoso café pariense que busca refúgio naqueles confins ao fugir de perseguições políticas na França. Só que desses atributos culinários, suas "patroas" nem desconfiavam. Até o dia em que a oportunidade de sair daquele lugar bate à porta da "empregada". Mas ao invés de fazer isso, ela prefere oferecer a toda a comunidade um autêntico banquete francês. Os preparativos mexem com a rotina do lugar e a noite do jantar transforma a vida de todos os que se deixaram tocar pela magia daqueles pratos e sabores. Vi esse filme várias vezes e sempre chego ao final emocionado, como se as mudanças vivenciadas lá tivessem atingido a mim. Sem falar na vontade louca de sair correndo para o restaurante francês mais próximo.
junho 23, 2006
junho 17, 2006
"Nascidos em bordéis"
Embrenhada no bairro da Luz Vermelha, periferia da cidade de Calcutá, uma fotógrafa esbarra na triste realidade de crianças crescendo no meio da prostituição, das bebidas e das drogas, sem perspectivas de um futuro diferente. Para tentar mudar isso, ela oferece câmeras para um grupo de meninas e meninos e pede que saiam registrando tudo o que virem pela frente. Depois, passa a se reunir com eles para analisar as fotos. As aulas de fotografia revelam um novo mundo para os "nascidos nos bordéis". Mas a educação que lhes bate à porta ainda encontra resistência: a desconfiança das mães, a burocracia do Estado, o preconceito da sociedade... É emocionante e encantador ir acompanhando a dedicação da fotógrafa e o crescimento visível dos seus talentosos aprendizes.
"Camelos também choram"
Uma comunidade nômade no deserto da Mongólia tem sua rotina alterada pelo nascimento de um camelinho albino cuja mãe se recusa a amamentá-lo. Enquanto acompanhamos as tentavivas vãs de se juntar os dois animais, conhecemos um pouco da rotina dessa família mongol que vive em tendas móveis - até aconchegantes - longe da tecnologia (um radinho de pilhas é o máximo que possuem) e arraigada a tradições milenares. Ao intercalar essas situações, os diretores de "Camelos também choram" constróem um filme simples, autêntico e - por isso mesmo - tocante e envolvente. Quem tiver paciência de acompanhar o desenrolar tranqüilo dos 87 minutos dessa produção entenderá o que estou tentando descrever.
"Grandes esperanças"
Enquanto o mundo se entediava com o jogo Brasil X Croácia, eu estava assistindo a "Grandes esperanças" (nenhum trocadilho com a situação da Seleção Canarinho na Copa do Mundo). No filme, Pip é um menino pobre que se apaixona por Estella, filha adotiva de uma senhora excêntrica que - tendo sido abandonada no altar - vive reclusa e amargurada no seu casarão. A garota é educada para seduzir os homens e desprezá-los, como uma forma de vingar o infortúnio da mãe. Um dia, o menino - que sonha se tornar um cavalheiro para poder lutar pelo amor que sente - recebe uma proposta de ir morar em Londres: terá suas despesas pagas por uma pessoa que prefere ficar no anonimato. David Lean consegue tecer sua história (baseada em Dickens) com maestria, envolvendo o expectador nos sonhos de Pip e nas artimanhas de Estella. Pena que a origem do dinheiro que muda a vida do garoto humilde não seja explicada e que a reviravolta final seja muito abrupta e - conseqüentemente - pouco crível.
junho 12, 2006
"Caché"
"Caché" já começa magnífico: câmera parada mostra a frente de uma casa por vários minutos. Quando a impaciência dá sinal de aparecer, damo-nos conta de que estamos compartilhando com os donos da casa filmada aquelas mesmas imagens, uma vez que eles estão assistindo a uma fita que receberam anonimamente. O que - num primeiro momento - parece uma brincadeira, começa a preocupar a partir do instante em que uma outra fita, registrando a mesma cena, chega acompanhada de um desenho macabro. A vida pacata do casal começa estremecer. Não entendem o que aquilo quer dizer, mas sentem-se ameaçados, temem por si e pelo filho. Para desvendar o mistério, não poderão contar com a polícia francesa, visto que o fato de receberem fitas com aquele conteúdo não constitui crime algum. O esposo mostra-se cada dia mais perturbado e distante, como se escondesse algo, o que deixa a esposa intrigada, frustrada, decepcionada. Fica nítido que a relação deles não vai bem: nunca os vemos trocar palavras de conforto, um abraço, um carinho sequer. Haneke filma um grande suspense a partir de um drama. Bastam alguns minutos de projeção para que sejamos fisgados pela trama que envolve culpa, mentira, desconfiança e medo. Dali até o final, olhos e ouvidos atentos a todo e qualquer movimento ou barulho. Inicialmente, somos cúmplices da agonia daquela família; depois, já somos detetives sedentos de justiça. Por não entregar respostas fáceis, o filme tem seus detratores entre as pessoas que entram na sala esperando tudo mastigadinho. Mas a grandeza de "Caché" ("escondido" em francês) encontra-se exatamente no que não é revelado com todas as letras. Está tudo lá (o passado do protagonista, o casamento frio, o pré-adolescente rebelde, a culpa, a falta de confiança, a xenofobia...) formando um mosaico interessante - mas assustador - da natureza humana. Em tempo: Juliette Binoche e Daniel Auteuil estão brilhantes, em atuações dignas de todos os créditos.
junho 09, 2006
"Betty Blue"
Este post é para reparar uma das injustiças da Liga dos Blogues Cinematográficos, que não colocou esse filmão nem entre os 50 melhores da década de 80. "Betty Blue" marca a estréia arrebatadora de Béatrice Dalle no cinema e recebeu indicações de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro, no Oscar e no BAFTA de 1987. Betty é uma moça desequilibrada que, por acreditar no talento do namorado Zorg (Jean-Hugues Angland) como escritor, não admite que ele siga cuidando de bangalôs numa praia do sul da França ou trabalhando como garçom em Paris. O problema é que a realidade vai perdendo o foco para Betty. Cada vez que um editor recusa os escritos do seu amado, ela fica mais transtornada. E nem mesmo o amor compartilhado com Zorg consegue resgatá-la do mundo que só existe na cabeça dela. Obsessiva e possessiva, a moça vai transformando o relacionamento num inferno. Apesar de deprimente, esse filme é maravilhoso, com atuações estupendas (inclusive nas cenas de sexo) de Dalle e Angland, fotografia e trilha belíssimas, além da direção competente do genial Beineix (que anda sumido e tem outras obras interessantíssimas no currículo: "Diva", "A lua na sarjeta" e "Roseline e os leões"). Para quem não conhece "Betty Blue", vale a pena ver; quanto aos que se esqueceram dele, que tal reassistir?
junho 01, 2006
"Missão Impossível 3"
Ethan Hunt está mais quieto, treinando agentes para as "missões impossíveis" ao invés de executá-las ele mesmo. O motivo? Está apaixonado e vai se casar. Seu plano dá certo até que uma de suas melhores "alunas" cai numa emboscada e ele é chamado para resgatá-la. A partir de então, ele se envolve com uma história de tráfico de armamentos, provocando a ira do vilão que - em troca de uma ultra-secreta arma chamada "Pé de Coelho" - promete deixar a noiva do mocinho em paz. O filme começa com uma seqüência espetacular, de muita tensão, ganhando o espectador já naquele momento. Vem um corte e somos levados para uma festa de noivado que aconteceu vários dias antes. Estamos preparados, pois, para assistir a partir dali tudo o que vai levar àquele desfecho mostrado no início. O diretor Abrams conseguiu humanizar o personagem de Cruise sem abrir mão das inúmeras e mirabolantes cenas de ação. Seymour Hoffman constrói um antagonista estupendo, tanto pela inteligência e loucura quanto pela audácia e frieza. O resultado? "MI-3" prende a atenção do início ao fim e supera os dois trabalhos que o antecederam.
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