setembro 28, 2006

"A dama na água"

(Lady in the water, 2006 – M. Night Shyamalan)
Esta estória que o diretor costumava contar para a filha e decidiu transformar em cinema é fantástica, tanto pela idéia quanto pela execução. Dar a uma menina - que mora nas águas de uma piscina de um condomínio de classe média - a missão de encontrar um escritor cujas idéias vão salvar o mundo é uma mistura de ousadia e coragem: se o expectador não mergulhar de cabeça nesse conto de fadas, não há como prendê-lo na cadeira até o final da projeção. Mas Shyamalan consegue. Com Paul Giamatti liderando um elenco afiadíssimo (sem exceção), “A dama na água” encanta com sua simbologia, desde a animação inicial até o desfecho arrebatador. Se a presença do diretor com um papel de destaque na trama (ao contrário de suas aparições hitchcockianas nas películas anteriores) irritou a crítica, a mim causou deleite: adorei a pretensa superioridade que ele permitiu a si mesmo. Não posso dar mais detalhes sob o risco de entregar uma grande surpresa. Ah, e a caracterização do personagem que interpreta o crítico literário é soberba e igualmente hilária. Somando-se todos os detalhes desta fábula, chega-se à conclusão óbvia: estamos diante de um grande filme de um grande diretor.

"Miami Vice"

(Miami Vice, 2006 – Michael Mann)
Não conheci a série de tv, mas parece que Mann quis colocar “miolos” onde só deveria ter diversão. A primeira hora é arrastada e a história só me ganhou realmente quando começaram as explosões e perseguições mirabolantes. Está certo que - em muitos momentos – os movimentos de câmera e a fotografia granulada agregam valor e beleza à linguagem do filme, mas ficam deslocados, como taças de champanhe francês para acompanhar um churrasquinho de gato.

"A prova"

(Proof, 2005 – John Madden)
É verdade que o filme lembra a idéia de “Uma mente brilhante”, mas o resultado vai além, com Gwyneth Paltrow, Anthony Hopkins, Jake Gyllenhaal e Hope Davis perfeitos em seus papéis. Hopkins é um gênio da matemática cuja esclerose pode ter inviabilizado a comprovação de uma grande teoria. Digo “pode” porque Gyllenhaal é o pupilo que vem freqüentando a casa do matemático após sua morte para estudar seus últimos escritos em busca de alguma descoberta que possa estar ali escondida. Em função disso, acaba por se aproximar de Paltrow, herdeira dos conhecimentos e – talvez – da doença do pai. Davis entra na história porque quer tirar a irmã daquela casa e levá-la para morar com ela. A explosão de conflitos e sentimentos que surgem dessas situações garantem o sucesso do filme. É impressionante como Paltrow consegue mergulhar no universo dessa filha perdida entre o amor e a loucura do pai, fazendo-nos acreditar em cada emoção da sua personagem. Para mim, uma grande e grata surpresa.

"A grande viagem"

(Le grand voyage, 2004 – Ismaël Ferroukhi)
O pai de uma família muçulmana que vive na França resolve cumprir a missão de ir à Meca. E opta por ir de carro, como uma maneira – inclusive – de se purificar para chegar à Terra Prometida. Um dos “poréns” dessa viagem é que ele não sabe dirigir, de maneira que seu filho caçula é quem deve levá-lo. No entanto, o moço – o mais ocidentalizado daquele núcleo familiar – não quer ir, não respeita os motivos e as idéias do pai e tem motivos fortes para permanecer na Europa: a conquista de uma vaga na universidade e a namorada. A viagem não é grande apenas pela distância a ser percorrida, mas principalmente pelo significado que terá para os dois. Boas atuações da dupla central. As imagens capturadas em Meca são impressionantes e dão uma noção exata do tamanho da devoção daquele povo.