novembro 08, 2006

"Sob o efeito da água"

(Little fish, 2005 - Rowan Woods)
Cate Blanchett prova mais uma vez porque sua presença é garantia de coisa boa no cinema. Aqui, ela faz uma ex-dependente de heroína que - livre do vício há 4 anos - não consegue um empréstimo para ampliar a videolocadora em que trabalha: sua ficha suja - em função das loucuras cometidas no passado - lhe fecha todas as portas. Estar limpa não é um paraíso e qualquer um que (conheça alguém que) tenha passado por isso pode entender o inferno de solidão e frustração em que ela está mergulhada. E só para complicar um pouquinho mais as coisas, um antigo namorado traficante reaparece do nada, bem como o padrasto - um ex-jogador de futebol cuja dependência química a influenciara outrora. O emaranhar de todas essas situações cria uma teia densa e absurdamente real. Tudo o que vemos ali soa verdadeiro. E como tal, toca fundo. Apesar do tema pesado, "Sob o efeito da água" deve ser visto por todos aqueles que curtem um cinema bem feito, sem concessões, transbordando qualidade sob quaisquer prismas em que seja analisado.

"Transamérica"

(Transamerica, 2005 - Duncan Tucker)
A simples história de um gay que - prestes a conseguir a autorização para a cirurgia de mudança de sexo - descobre que é pai de um adolescente problemático já seria suficiente para fazer esse filme virar um sucesso de bilheteria. Mas a atuação espetacular de Felicity Huffman eleva sobremaneira o seu resultado final. Existem cenas bobas e improváveis sim. No entanto, o drama de alguém que - já tão perto de se "encontrar" - precisa provar para si mesmo que não está perdido outra vez é envolvente e arrebatador.

"Veias e vinhos"

(Veias e vinhos - Uma história brasileira, 2006 - J. B. de Andrade)
Um massacre ocorrido em Goiânia às vesperas do golpe militar de 1964 é o fio condutor desse filme - baseado na obra homônima do escritor goiano Miguel Jorge - que conta com atuações marcantes de Simone Spoladore e Leopoldo Pacheco. Uma certa tensão - retratada tanto pela fotografia em tons escuros quanto pelas interpretações contidas - permeia a história desde o início. E isso é um dos pontos positivos de "Veias e vinhos". É uma pena que a partir de certo momento, o diretor João Batista de Andrade não consiga fugir dos maneirismos e deixe o roteiro óbvio demais. Ainda assim, o fato de ter conseguido criar - e manter - uma atmosfera densa e pesada que transborda da tela para a sala de projeção merece crédito. O resultado final poderia ser melhor, mas tem seu valor.

"Trair e coçar é só começar"

(Trair e coçar é só começar, 2006 - Moacyr Góes)
A obra pode ter funcionado no teatro, mas na telona não se segurou não: tudo parece over. Arranca risadas? Claro! E isso por si só não é significado de qualidade ou mérito - vez ou outra, o Chaves e sua turma também me arrancam gargalhadas... Duro mesmo é chegar ao final do filme com aquela sensação de tempo perdido.

"A casa do lago"

(The Lake House, 2006 - Alejandro Agresti)
Esqueça a lógica e mergulhe nesse romance de corpo inteiro. Talvez seja preciso vencer - inicialmente - a resistência à dupla Keanu Reeves & Sandra Bullock: mas acredite, eles estão bem no filme. A idéia de duas pessoas estarem se correspondendo - apesar de viverem em tempos distintos, ele em 2004 e ela em 2006 - fica fascinante nas mãos do diretor Alejandro Agresti. Em comum, os apaixonados têm a casa do lago e uma vontade doida de achar uma maneira de se encontrarem. A delicadeza com que é retratado esse conto de amor ganha o público de cara - pelo menos aquelas pessoas que embarcam na magia de uma história bem contada.