Esqueça todas as simplificações óbvias que foram usadas para descrever esse filme. "Brokeback Mountain" trata de solidão... E para ser mais preciso, de solidão a dois, aquela que surge quando o amor assumido não consegue quebrar as barreiras que separam duas pessoas do sonho de uma vida compartilhada, sob o mesmo teto, todos os dias. Saber que a felicidade está tão próxima e não conseguir agarrá-la é extremamente angustiante. Por motivos distintos, os caubóis Ennis e Jack (Heath Ledger e Jake Gyllenhaal nos papéis de suas vidas) sofrem com essa situação por anos a fio. E ter a certeza de que tudo poderia ser diferente causa mais dor ainda. Ang Lee aborda esses sentimentos contraditórios com tanta sinceridade e delicadeza que conseguiu criar um dos filmes mais belos e comoventes a que assisti.
PS: Escrevi esse texto a pedido do Chico Fireman (idealizador da Liga dos Blogues Cinematográficos/LBC, link aí ao lado) para ilustrar as indicações dos finalistas ao Alfred 2006 (prêmio que os integrantes da LBC conferem às melhores películas exibidas no circuito comercial brasileiro). Resolvi reproduzi-lo aqui como forma de comemorar a conquista de melhor filme do ano - ao lado de "O novo mundo", do Mallick - concedida nesta noite à obra-prima do Ang Lee por 64 blogueiros cinéfilos de todo o Brasil. A "parte IV" do título refere-se ao número de vezes que o filme já apareceu no Cine Dema(i)s. Sua vitória confirma o que escrevi - no dia 2/2/06 - após tê-lo assistido pela primeira vez: "É o filme do ano".