julho 17, 2007

"Marcas da vida"

(Red Road, 2006 - Andrea Arnold)
Jackie é uma funcionária da vigilância urbana de Glasgow. Ao ficar observando os movimentos suspeitos (e não) da população através de um sistema de câmeras espalhadas por toda a cidade, ela parece querer esconder os seus traumas. Na festa de casamento de sua cunhada, é sutilmente revelado o motivo da tristeza e da solidão daquela mulher. Fora do trabalho, não tem vida (a não ser pelos encontros fortuitos e vazios com um homem casado). No entanto, ela reencontra um homem que tem muito a ver com o seu passado e angústia. Obcecada, passa a vigiá-lo eletrônica e pessoalmente, freqüentando os ambientes do moço. Ela tem um plano para acertar as contas e vai levá-lo às últimas consequências até fazer justiça com as próprias mãos. Trabalho de estréia em longas da diretora inglesa, "Marcas da vida" consegue criar um suspense que nos envolve e nos faz acompanhar a amargura de Jackie minuto após minuto, tentando adivinhar o que ela será capaz de fazer. E o roteiro inteligente e sagaz vai nos surpreendendo até mesmo quando achamos que está tudo terminado. É um filme silencioso, de poucas falas, mas absurdamente eloquente, que foi festejado em Cannes e no BAFTA e que tem passado quase batido por aqui.

"Ratatouille"

(Ratatouille, 2007 - Brad Bird)
Remy é um ratinho do interior da França que - diferente dos seus companheiros - não gosta de lixo, tem um olfato apuradíssimo e um sonho bem peculiar: ser um chef de cozinha. Um acidente com sua colônia acaba por lançá-lo nos esgotos de Paris. Dali para os fogões de um restaurante, é uma corridinha. Ao colocar um roedor no comando de panelas e temperos, a Disney cria uma fábula de superação, onde o sonho está ao alcance de quem acredita. O desenho é tecnicamente perfeito, tem uma história encantadora, situações muito engraçadas e uma cena (já) antológica: aquela em que o cruel crítico gastronômico é tocado pela magia de um prato preparado pelo ratinho. Para ver e rever e rever...

PS: "Quase abduzido (Lifted)" é o nome do curta de animação que antecede a projeção de "Ratatouille" e narra a desventura de um extra-terrestre ao tentar praticar sua primeira abdução. Gargalhadas garantidas.

"O tigre e a neve"

(La tigre e la neve, 2005 - Roberto Benigni)
A guerra agora é a do Iraque, para onde vai o professor - vivido por Benigni - a fim de cuidar de sua amada, uma escritora que fazia uma entrevista para o seu próximo livro, quando foi vítima de um atentado. Se em "A vida é bela", o diretor conseguiu contar uma história trágica com um certo encanto, aqui ele se perde em equívocos e trapalhadas e põe tudo a perder. Nada emociona.

"Harry Potter e a Ordem da Fênix"

(Harry Potter and the Order of the Phoenix, 2007 - David Yates)
Tão sombria quanto "O prisioneiro de Azkaban", essa quinta parte da saga do bruxinho de Hogwarts traz menos ação e mais drama, mais tensão. O crescimento e as mudanças físicas dos atores-mirins pareceM emprestar mais credibilidade aos personagens, que se vêm às voltas com as artimanhas de Você-Sabe-Quem para acertar de vez as contas com Harry Potter. O garoto, por sua vez, vai contar com a ajuda da Ordem de Fênix, uma organização secreta de bruxos, da qual seus pais participaram. E ele vai precisar mesmo, porque a nova diretora de Hogwarts - interpretada magistralmente por Imelda Staunton, de "Vera Drake" - faz de tudo para controlar quaisquer movimentos que possam atrapalhar os planos de Lorde Voldemort. A sobriedade com que David Yates conta essa história, sem excessos, com as emoções na medida certa, é ponto forte no belo resultado final. Mas é claro que existem algumas (diga-se de passagem, muito boas) cenas - como as do gêmeos sabotando o dia de provas ou da perseguição na Galeria das Profecisas - com a marca registrada da grandiloqüência e do tom aventuresco da série. Que venha "O enigma do Príncipe".

"A conquista da honra"

(Flags of our fathers, 2006 - Clint Eastwood)

1945. A bandeira dos Estados Unidos é colocada sobre o Monte Suribachi, na Ilha de Iwo Jima. A foto daquele instante histórico era tudo de que o governo norte-americano precisava para levantar fundos e dar continuidade à guerra. E os jovens combatentes que aparecem no registro fotográfico viraram garotos-propaganda dessa jogada de marketing, percorrendo o país inteiro pedindo donativos. Tudo maravilhoso se não fosse por um detalhe: eles não eram os protagonistas daquela façanha. Os soldados que ergueram a bandeira pela primeira vez não foram fotografados. O "click" que ganhou o mundo e o prêmio Pulitzer foi, na verdade, uma encenação. Assim, o filme aborda o dilema moral desses garotos que sabiam que não eram merecedores de toda aquela glória e que os verdadeiros heróis estavam mortos na ilha japonesa. A fotografia de cores bem lavadas do filme, com tudo praticamente em tons de cinza, reforça esse sentimento de vergonha e de anti-heroísmo, como se a ausência de cores pudesse ocultar aquela farsa. A narrativa não-linear funciona bem e - se nos confunde em alguns momentos - é para retratar a perturbação que os soldados farsantes enfrentavam. A narração em off é desnecessária, assim como aqueles didáticos e explícitos 20 minutos finais.

"Paixão sem limites"

(Asylum, 2005 - David Mackenzie)
Essa história de amor densa - e tensa ao extremo - passa longe do romantismo que o título em português sugere. A bela Natasha Richardson (filha da veterana Vanessa Redgrave) é a esposa de um psiquiatra londrino que é nomeado superintendente de um sanatório. Refinada, essa mulher passa a viver isolada da alta sociedade londrina nos anos 1950 e, entediada, envolve-se com um sedutor paciente, internado por ter matado toda a família. Essa relação de entrega e posse pega fogo em todos os sentidos, fugindo do controle dos seus protagonistas, colocando em xeque a sanidade mental dos dois. O diretor Mackenzie consegue criar um filme intenso que prende a atenção, surpreende em muitos momentos e tem um final para lá de coerente. Não é preciso dizer que as atuações de Natasha Richardson e de Ian McKellen (como o médico preterido ao cargo de superintendente) contribuem sobremaneira para o clima de transe que envolve quem assiste a essa produção.

"Eragon"

(Eragon, 2006 - Stefen Fangmeier)
Houve uma época em que os Cavaleiros do Dragão defendiam o mundo e eram praticamente imortais. Mas tornaram-se arrogantes com o passar do tempo. Foram, por fim, dizimados por um governante tirano e explorador (ele mesmo um ex-cavaleiro), que ordenou que todos os dragões fossem extintos. Até o dia em que um garoto acha uma estranha pedra azul na floresta. Tal encontro vai meter o jovem em muitas encrencas que culminarão com o cumprimento da profecia de que um cavaleiro do dragão renasceria para libertar seu povo. "Eragon" é uma aventura bem feita, um filme para ser assistido com um balde de pipoca do lado.

"Sob o domínio do medo"

(Straw dogs, 1971 - Sam Peckinpah)
David (Dustin Hoffman) é um matemático que se mudou para o interior da Inglaterra em busca de paz para concluir seus estudos. Sua esposa (Susan George), bonita, jovem e sensual demais para os padrões daquela pequena aldeia, começa a mexer com a imaginação da população masculina. O caos se instaura quando o casal resolve contratar o grupo de trabalhadores para reformar sua garagem. Por parecer um fraco (inclusive, sexualmente) no meio de uma comunidade de homens rudes e beberrões, o matemático é cercado por desprezo, inclusive dos seus empregados, que não se intimidam e passam a invadir a vida dos "estrangeiros" de todas as maneiras. O que se vê a partir do momento em que David se sente literalmente acuado é a explosão da ira pela defesa da honra, da propriedade, da própria integridade física e moral. É soco no estômago. É Peckinpah em grande estilo.

"A grande família - O filme"

(A grande família - O filme, 2007 - Maurício Farias)
Após passar mal, Lineu vai ao médico. Suspeitando estar com uma doença grave, resolve ocultar tudo da família. Preocupado e deprimido, desiste de ir ao tradicional baile em que conheceu Nenê. É aí que aparece um ex-pretendente de sua esposa. Enciumado e com a cabeça cheia de caraminholas por causa dos conselhos do patrão Mendonça, ele chega - inclusive - a ensaiar um romance com uma funcionária da sua repartição (Dira Paes, numa participação especial). Por ter o mesmo formato da televisão, o filme parece longo demais, com o episódio sendo esticado à exaustão (será por isso que a estória é contada de 3 formas diferentes a partir das supostas mudanças de atitute do personagem Lineu?). Mas graças à afinidade do elenco e à "pureza" do humor realizado pela trupe toda, "A grande família" escapa do desastre total. Mas poderia ser bem melhor.

"Perfume: a história de um assassino"

(Perfume: the story of a murderer, 2006 - Tom Tykwer)
"Perfume", o livro de Süskind, fez parte da minha adolescência. Impressionou-me muito a saga daquele jovem pelo odor que colocaria o mundo a seus pés. E essa história me perseguiu por anos a fio, nas conversas entre amigos sobre bons romances. E qual não foi minha surpresa ao saber que ele saltaria das págians para as telonas. Apesar da direção de arte e da fotografia deslumbrantes, a narrativa não consegue reproduzir o mesmo clima de suspense que a literatura conseguiu. As mortes se sucedem, mas não escandalizam quem assiste, não instigam. E assim, a monotonia vai se instalando na ação do filme, enquanto o assassino perfumista segue seu objetivo: produzir o perfume perfeito. Mas justiça seja feita: a cena da catarse final é espetacular. E a atriz Rachel Hurd-Wood, mais ruiva do que nunca, parece uma pintura, de tão bela.

"Deja vu"

(Deja vu, 2006 - Tony Scott)
Ao ver o trailer com Denzel Washington fazendo o policial super-herói, a impressão que se tem é exatamente a de já ter visto aquilo antes. Mas ao reinventar a história da máquina do tempo numa trama cheia de idas e vindas, do presente ao passado recente, o filme consegue nos envolver, garantindo um bom programa de ação para aquele domingo modorrento.

"O diabo veste Prada"

(The devil wears Prada, 2006 - David Frankel)
Essa comédia é um exemplo perfeito do que uma grande atriz pode fazer por um filme. Sem um sorrisinho sequer, Meryl Streep consegue nos fazer gargalhar com a tirania de sua personagem, uma celebridade do mundo da moda às voltas com todas as picuinhas desse universo. Esqueça o resto e foque toda sua atenção nela. É satisfação garantida.