abril 05, 2006

"2046 - Os segredos do amor"

(2046, 2004 - Wong Kar-Wai)

2046 é o número do quarto que abrigou um idílio amoroso. É também o ano em que se passa a trama de um romance futurista. E ainda o número do trem que transporta os passageiros que buscam suas lembranças perdidas. Dito isso, vamos à história do filme: num passado recente, um amor não correspondido provoca estragos profundos na vida de um jornalista que - desempregado - vê-se obrigado a escrever um romance onde mistura ficção e acontecimentos autobiográficos. Volta ao hotel em que viveu o inesquecível amor e - diante da impossibilidade de ocupar o quarto 2046 - ocupa o aposento do lado. Acaba se envolvendo com três mulheres que, posteriormente, hospedam-se no 2046. Sua vida amorosa passa a oferecer os elementos literários para seu trabalho, e é esse detalhe que enriquece o roteiro de Kar-Wai, misturando personagens, tempo e espaço de maneira criativa e encantadora. Mas não é só isso que faz de "2046" um grande filme: os boleros, jazz, ópera e música instrumental pontuam as cenas de maneira perfeita; os enquadramentos - cheios de closes e câmera lenta - nos deixam fisicamente mais próximos dos personagens; a iluminação difusa privilegia as penumbras, como se ajudasse a esconder o que o escritor não consegue ou não quer revelar; e o elenco feminino rivaliza tanto na beleza quanto na competência (Maggie Cheung, Gong Li, Zhang Ziyi - que nunca esteve tão sensual - e Faye Wong - belíssima no papel da filha da dona do hotel e de uma andróide).

8 comentários:

gonn1000 disse...

Plasticamente é muito conseguido, mas o argumento deixou-me distante. No geral, considero-o um filme mediano.

Michel Simões disse...

Belíssimo texto... Não me apaixonei pelo filme, mas gosto bastante!! abraço!

Ademar de Queiroz (Demas) disse...

Gonn, toda a confusao de ficçao e realidade me encantou. E a fotografia é deslumbrante mesmo. Abraçao.

Valeu, Michel. Eu estou mais apaixonado pelo filme hoje do que no dia em que o vi. As sensaçoes ficaram e se transformaram. Adoro quando um filme me provoca isso. Abraçao.

Iris, é isso aí. O Ícaro resolveu mudar de nome, de casa... mas continua com a mesma essencia. Beijo.

Anônimo disse...

Esse filme me balançou (mais uma vez)! Esse cara tem a qualidade rara de nos fazer viajar junto com ele...parabéns pelo Cine Dema(i)s!

te abraço,
Guiu

CHICO FIREMAN disse...

Vi duas vezes, é belíssimo.

Seus links foram atualizados no blogue da liga e no meu blogue.

abração.

Ademar de Queiroz (Demas) disse...

Guiu, obrigado a você pela visita. 2046 é demais mesmo. Abração.

Felipe, agora que conhece, volte mais vezes. Muito obrigado pela visita. Abração.

Concordo, Chico. Obrigado pelas atualizações. Desculpa o trabalho. Abração.

GGUEDES disse...

Na verdade, era um amor correspondido, mas havia complicações sociais. Afinal, era a China em 1960 e poucos. 2046 é uma continuação, o primeiro é o fantástico AMOR À FLOR-DA-PELE. Há pessoas que fazem uma ligação do número 2046 com o fato da China não mudar nada na economia e na política de Hong Kong até esta data. Acordo feito quando da devolução do controle do território pela Inglaterra. Ou seja, seria mais uma metáfora pelo desejo da permanência dos sentimentos, dos amores. Como a história de contar um segredo a uma árvore.
Adorei teu blog.
Beijos e namarië.

Ademar de Queiroz (Demas) disse...

Está certo, Gal, mas as complicações sociais vitimavam a relação, por isso disse que não era correspondido (pelo menos da maneira como o jornalista gostaria). O filme é lindo mesmo. Obrigado pela visita. Volte quando quiser. A casa é sua.
Abração.