janeiro 31, 2006

"Manderlay"

(Manderlay, 2005 - Lars von Trier)
Em “Manderlay”, as marcações teatrais e a quase absoluta ausência de elementos no cenário já não causam o impacto do seu antecessor. Essa surpresa, eu esperava mesmo era da história: a chegada de Grace a uma propriedade escravocrata em 1933 – quando a abolição já tinha sido decretada nos EUA há 70 anos – promete conflitos, desafios e revelações. E o filme entrega tudo isso, mas – apesar das várias analogias interessantes que a posição libertária e democrática de Grace podem provocar – “Manderlay” me envolveu e inquietou menos que “Dogville”. Ainda assim, está longe de ser um exemplar menor de Lars von Trier e consegue manter o interesse pelo que virá na parte final de sua trilogia sobre a “Terra das Oportunidades”. Bryce Dallas Howard está bem como a filha do gângster que quer mudar o mundo, mas falta-lhe – não o talento, mas – um certo não-sei-quê de maturidade que Nicole Kidman esbanjou para construir sua personagem no filme anterior.

janeiro 30, 2006

"Munique"

(Munich, 2005 - Steven Spielberg)
Não é que o filme não tenha qualidades - ele as tem sim! As atuações são bacanas, o roteiro não desliza, as locações e reconstituição de época estão ok, a fotografia meio lavada - em tons acinzentados - passa bem o clima da desolação que precisa ser mostrada. Mas contar a história do desdobramento do assassinato da comissão olímpica israelense em Munique pedia mais do que explosões e alguns mea culpas. Porque a vingança com suas perseguições e matanças à moda terrorista (com tudo voando pelos ares) por quase 3 horas não surpreende, choca menos a cada bomba, é esperada e recebida com bocejos (na sessão em que eu estava, mais de 20 pessoas deixaram a sala antes do término da projeção). Lá vou eu repetir "King Kong" mas - convenhamos! - uma hora a menos de duração faria um bem a "Munique" que a Universal e a Dreamworks nem fazem idéia! O que o filme tem de mais interessante - e no fundo, acho que era isso que eu esperava assistir - só aparece na meia hora final: o questionamento sobre todas aquelas mortes, a constatação de que sangue só traz mais sangue de volta, as culpas, as angústias... enfim, se o lado mais íntimo dos ativistas israelenses, com suas dúvidas e medos, tivesse sido o foco de "Munique", o filme seria muito melhor. Tenho certeza!

janeiro 26, 2006

"Oliver Twist"

(Oliver Twist, 2005 - Roman Polanski)
Mais uma vez, a adaptação do romance de Dickens para o cinema ficou bacana, correta, respeitosa, cenários e figurinos primorosos, atuações perfeitas (o garoto Barney Clark, de 11 anos, que faz o personagem-título é uma gracinha), fotografia deslumbrante, direção correta. Ainda assim, gostei mais do "Oliver Twist" do David Lean (e olha que já não ficara muito deslumbrado com essa versão em p&b de 1948). Talvez seja porque a fábula do órfão sofrido e bonzinho que foge para Londres e é acolhido por uma gangue de larápios-mirins agenciada pelo inescrupuloso - e asqueroso - Fagin (vivido aqui pelo sempre eficiente Ben "Gandhi" Kingsley) não me toque muito. É tudo muito bonito, bem feito, mas não me toca. Vai entender... Em tempo: o cachorro do picareta Bill Sykes, comparsa do Fagin, é show; um exemplo de como o adestramento de animais tem gerado "personagens" cativantes.

janeiro 25, 2006

"Tudo em família"

(The family Stone, 2005 - Thomas Bezucha)
Nem foi o excesso de clichês que me incomodou tanto nessa comédia sobre um Natal em família onde a futura noiva (Sarah Jessica Parker ótima, como já era de se esperar) do primogênito será apresentada aos "parentes". O que me intrigou mesmo foi a maneira gratuita com que todo mundo - sem exceção - antipatizou e/ou destratou a infeliz convidada. Depois que eu aceitei essa premissa do filme, veio o pior: a fórmula fácil (e preguiçosa) escolhida para desatar os nós e desfazer as amarras entre os personagens. Uma doença daqui, uma troca de casais dali, um presente de lá; tudo muito simples para relações que pareciam tão intricadas. Ainda assim, achei o filme divertido (se bem que o clichezão do ônibus, pelamordedeus...) e, além da Mrs. Parker, se saem bem Rachel McAdams (a cunhada malvada), Luke Wilson (o cunhado viajandão) e Diane Keaton (a matriarca do clã dos Stones) - apesar dela estar longe de suas melhores atuações.

PS: Vi os trailers de "Match Point" com a Scarlett Johansson e de "Munique" com o Eric Bana (de "Hulk" e "Tróia"). O primeiro me impressionou bastante pelo que o triângulo amoroso traz de tensão e obsessão num filme de Woody Allen (!). Já o segundo... (com o tique nervoso de limpar a garganta da Meredith de "Tudo em família") ... Spielberg é Spielberg - para o bem e para o mal - e esse "Munique" me pareceu meio dejà-vu. Quero ver, mas não espero muito não.

janeiro 18, 2006

"A noiva cadáver"

(Corpse bride, 2005 - Tim Burton & Mike Johnson)

É sempre com bastante expectativa que aguardo os filmes de Burton (desde "Os fantasmas se divertem", só não vi "O planeta dos macacos"). Mas com essa animação, a sangria foi mais desatada, porque "O estranho mundo de Jack" me conquistara de tal maneira que eu queria muito ver outro desenho do diretor. Expectativas superadas. "A noiva cadáver" tem o humor negro peculiar de Tim Burton (perdão por não citar o Johnson, mas as características de Burton são tão gritantes no filme que nem parece que houve a interferência de outro cineasta). E é uma fábula maravilhosa. E como não seria se a história se refere a uma noiva morta no dia do seu matrimônio e que permanece com o desejo de trocar alianças, ainda que seja com um digno representante do mundo dos vivos? O eleito é Victor, que está prestes a se casar com Victória, numa cerimônia para lá de arranjada por suas famílias, ambas com interesses bem menos nobres que o amor. Ainda assim, o futuro casal - que mal se conhecia - é tocado pelo Cupido. Mas para delírio do público, a obstinação da noiva cadáver leva Victor ao altar na Terra dos Mortos que, ao contrário do mundo dos vivos (escuro, sombrio), é colorido, dançante, divertido (esse Burton!). Abandonada, a noiva viva parte em busca do seu pretendente. A magia desse triângulo amoroso (e inusitado) é tão perfeita que é impossível torcer por um dos possíveis pares. E ainda tem as músicas que vão pontuando a história com sarcasmo e alegria. Burton é mesmo um gênio.

janeiro 17, 2006

"Bom dia, noite"

(Buongiorno, notte, 2003 - Marco Bellocchio)
O seqüestro de Aldo Moro - primeiro ministro italiano e líder da Democracia Cristã - executado pelo grupo extremista "Brigada Vermelha" e ocorrido em 1978 é o tema de "Bom dia, Noite". Digo tema porque a alma do filme é mesmo Chiara (Maya Sansa), uma das poucas personagens fictícias da história, mas exatamente o contrapeso, o que tem de questionamento no meio de tantas certezas, de emoção no meio de toda aquela razão, de feminino no meio de um mundo de homens. Integrante do BV, ela se entusiama com o sucesso do plano para depois transformar-se no principal elemento dissonante do grupo. Suas dúvidas, seus pensamentos, seus sonhos vão entrando em sintonia com os sentimentos do público. E exatamente por isso, o final do filme surpreende. O apartamento com cortinas fechadas, pouca luz e barulho nenhum vira um ambiente altamente claustrofóbico que converte o cativeiro do seqüestrado numa espécie de prisão dos seus algozes. Adoro a cena em que um colega de trabalho da seqüestradora fala sobre o livro que está escrevendo: é a metalinguagem usada de forma inteligente para frisar as mudanças que estão acontecendo com Chiara. Ao misturar ficção e imagens reais do incidente, o diretor consegue impregnar o filme de uma verdade atual, que incomoda e faz refletir.

PS: Antes da sessão, assisti ao trailer de "O segredo Brokeback Mountain". E pelo que vi, Ang Lee parece merecer todos os louros que vem recebendo. Agora, é aguardar o lançamento.

janeiro 13, 2006

"Caiu do céu"

(Millions, 2004 - Danny Boyle)
Depois de covas rasas e extermínios, que surpresa esse novo Boyle. Não que eu não goste da versão - digamos assim - mais hard do diretor; adoro seus filmes anteriores, com exceção de "A praia". O que surpreende em "Caiu do céu" é sua candura de fábula moderna: as aventuras de dois irmãos que - com a morte da mãe - mudam de casa para fugir do passado e se envolvem com uma dinheirama que cai - literalmente - do céu na semana em que o euro passará a ser a moeda oficial do Velho Continente. Trocando em miúdos: eles têm poucos dias para torrar todas aquelas libras antes que elas virem um amontoado de papel sem valor. O que qualquer criança faria com aquilo tudo é fácil imaginar; o que surpreende é a postura de Damian (o irmão mais novo, vivido magistralmente pelo ator-mirim Alexander Nathan Etel, uma autêntica revelação) que, de tanto se interessar pela vida dos santos, tem atitudes quase divinas. O garoto é a alma do filme. Suas conversas imaginárias (?) com os representantes das alturas celestiais (que aparecem em situações bem mundanas, diga-se de passagem) são puro deleite, tanto pelo teor dos diálogos quanto pelo visual das cenas. E a coisa pega fogo de vez quando o dono da fortuna aparece. É difícil relatar o que se destaca mais nesse longa: a fotografia é deslumbrante, o uso da música beira a perfeição, o elenco está afinado (destaque para o garoto Etel, faço questão de frisar novamente), o roteiro é envolvente, a direção conduz a história com graça, objetividade e leveza... Sem sombra de dúvidas, "Caiu do céu" é um grande filme, dos melhores do Boyle e de 2005.

"Pantaleão e as visitadoras"

(Pantaleón y las visitadoras, 1999 - Francisco J. Lombardi)
Mais uma prova do fôlego do cinema latinoamericano, essa comédia foi descoberta por mim recentemente. Divertidíssimo, o filme aborda o infortúnio (?) do capitão Pantaleão Pantoja escalado para uma missão secreta: organizar uma expedição de visitadoras (prostitutas) para conter os ânimos dos soldados que estão em serviço na fronteira da Amazônia Peruana e que vêm sendo acusados pelo aumento de estupros na região. Obediente, destacado e corretíssimo funcionário do Exército, Pantaleão aceita comandar as "meninas" desde que sua esposa nunca fique sabendo dos detalhes da empreitada. Como era de se esperar, a competência do capitão transforma a missão em absoluto sucesso. Só um detalhe escapa ao seu controle: a beleza exuberante da "visitadora" Colombiana, interpretada de forma (e que forma!) magnífica por Angie Cepeda. Com um roteiro recheado de situações inusitadas e atuações corretas, "Pantaleão e as visitadoras" é uma bela surpresa que faz seus 137 minutos de duração passarem rapidinho, rapidinho...

janeiro 12, 2006

"Se eu fosse você"

(Se eu fosse você, 2006 - Daniel Filho)
Casal vive às turras. Após uma discussão daquelas, eles acordam com as identidades trocadas. Enquanto buscam uma explicação para o que está acontecendo, cada um tem de viver a vida do outro. Apesar do esforço dos atores Glória Pires e Tony Ramos, a história para lá de batida não empolga. 

"Amor para sempre"

(Enduring love, 2004 - Roger Michell)
"Amor para sempre" começa com uma cena espetacular envolvendo um acidente de balonismo - e é, sem sombra de dúvida, a seqüência mais emblemática do filme, seja pelo que tem de tensão, seja pelo que tem de beleza. Uma estranha relação se estabelece entre dois dos homens que tentavam controlar o balão: Joe (Daniel Craig) e Jed (Rhys Ifans). O primeiro é um professor apaixonado por uma artista plástica (Samantha Morton). O segundo entra na vida de Joe como se quisesse expurgar algum trauma do tal acidente com o balão. A marcação é cerrada, com o indivíduo aparecendo em todos os lugares em que o professor se encontra. Até aqui tudo ok, o clima de perseguição, invasão e insanidade funciona superbem. Mas depois de um certo tempo vem o problema do filme: essa obssessão cheira a deva-ju e a partir de então pouca coisa surpreende na história.

janeiro 11, 2006

"Cidade Baixa"

(Cidade Baixa, 2005 - Sérgio Machado)
Triângulos amorosos costumam render boas histórias, algumas bobinhas ("Três formas de amar", 1994 - Andrew Fleming ), outras, verdadeiras obras-primas ("Uma mulher para dois", 1961 - François Truffaut ou "Os sonhadores", 2003 - Bernardo Bertolucci). "Cidade Baixa" se aproxima muito desse segundo tipo. A história de dois "amigos-quase-irmãos" que gostam da mesma mulher cresce em drama e tensão durante os 93 minutos do filme. Até porque, além da "amizade-quase-amor" dos dois, a garota dos sonhos deles não é aquela certinha, comportadinha... mas uma stripper, uma garota que mexe com as fantasias de muitos outros homens. Só isso já dá a dimensão do barril de pólvora com que o trio está lidando. Logo no início, fica evidente que nenhum dos rapazes vai abrir mão daquela paixão; tampouco estão dispostos a eliminar um ao outro; e a mocinha também não consegue fazer sua escolha. O clima de ciúme e competição vai pesando e toma conta do terço final de "Cidade Baixa", fazendo com que o público transpire junto enquanto arrisca qual o vértice do triângulo amoroso vai-se partir. Aliás, palmas para a trinca que faz a diferença nesse longa-metragem: Wagner Moura, Alice Braga e Lázaro Ramos defendem muito bem seus personagens, humanizando-os de uma maneira absurdamente cativante, tornando qualquer aposta muito difícil. Será impossível mesmo amar a 3?

janeiro 10, 2006

"As crônicas de Nárnia"

(The chronicles of Narnia, 2005 - Andrew Adamson)
O visual é deslumbrante, o elenco é supercarismático, sendo que Tilda Swinton está magnífica como a Feiticeira, com suas nuances perfeitas ora de "fada madrinha", ora de "bruxa má". A animação é bacana e o casal de castores convencem e cativam (gosto mais deles que do Leão, por exemplo). Tudo é certinho demais, óbvio demais e - talvez por isso mesmo - a história não empolgue. Não chega a ser um desastre, mas está bem longe de uma obra-prima.

janeiro 09, 2006

"Vinícius"

(Vinícius, 2005 - Miguel Faria Jr.)
Sem o pocket show - encenado por Camila Morgado e Ricardo Blat - que pontua todo o filme, "Vinícius" seria ótimo. Sua vida narrada por amigos e parentes ganha o público de pronto (principalmente quando quem está na tela é Chico Buarque, com comentários sempre muito bem humorados, revelando detalhes mais íntimos sobre a vida do poetinha; aliás, não saia da sala até que suba o último crédito: o comentário de Chico sobre "Vinícius e reencarnação" é hilário e delicioso). Suas músicas interpretadas por cantores como Adriana Calcanhotto, Mônica Salmaso, Caetano Veloso e Olívia Byington ganham vida nova e emocionam. Mas os poemas declamados pela dupla de atores numa apresentação de teatro ficcional soam falsos, artificiais, frios... Exatamente o oposto de tudo o mais que é contado e mostrado. Ainda bem que as histórias de (e sobre) Vinícius de Moraes são tão boas que o filme consegue se recuperar sempre, voltando a decolar, chegando ao final de forma satisfatória.

"Mar adentro"

(Mar adentro, 2004 - Alejandro Amenábar)
Sábado passado, reassisti a "Mar adentro" com um grupo de amigos. E o filme passou no teste. Eu tinha visto no cinema e - devo confessar - que ele me emocionou tanto quanto (ou mais que) a primeira vez. Rever esse Amenábar me fez confirmar tudo o que já tinha escrito anteriormente sobre ele, com uma ressalva: a atuação de Mabel Rivera - a cunhada Manuela - me ganhou ainda mais nessa revisão. Conclusão: o filme segue firme como um dos destaques de 2005.
* * * * * * *
MAR ADENTRO
Abordar a história de um tetraplégico que deseja morrer parece um argumento perfeito para arrancar lágrimas da platéia. Não para Alejandro Amenábar. É claro que o choro vem, mas somente depois de se abrir os olhos para a realidade de uma vida vazia, separada do seu sentimento mais valioso: a liberdade.
É assim que "Mar adentro" nos apresenta Ramón Sampedro: um ex-marinheiro (que já viajara pelo mundo todo) preso a sua cama após fraturar o pescoço num mergulho, dependente da família para absolutamente tudo. Sua noção do que significa viver é tão ampla que ele sempre se recusou a utilizar uma cadeira de rodas, já que isso seria uma migalha para quem foi tão livre. E não interessa se a decisão de acabar com a própria vida está certa ou não... O que o diretor quer é que entendamos os motivos que levam a uma decisão tão extrema.
Quando o filme começa, Ramón já luta há 26 anos pelo direito à eutanásia. Lê, ouve suas músicas e escreve com a ajuda de uma geringonça que inventou. É cercado de carinho por todos os lados. Mora com o pai, o irmão, a cunhada e sobrinho; é amado por uma radialista e pela advogada que abraça sua causa; e ainda tem a ativista do grupo "Morrer com dignidade" como grande amiga.
É exatamente ao mostrar um homem envolvido por tão nobres sentimentos que essa história ganha força. Para quem acha que o amor é tudo, aqui o desejo de liberdade revela-se maior. O conflito instala-se em cada um (dos personagens e dos espectadores) porque em "Mar adentro" amar significa matar. E por mais que se entendam os motivos, é sobre-humano conciliar tamanho paradoxo. Por isso, o filme mexe tanto com as emoções de quem o assiste.
É preciso ressaltar a interpretação de Javier Bardem, excelente ator, num dos seus melhores momentos no cinema (e olha que ele tem muita coisa boa no currículo). Aliás, para ser mais justo, deve-se destacar o trabalho do elenco, todo ele maravilhoso, sem exceção. É difícil chamar a atenção de uma atuação em detrimento das outras, mas vou correr o risco e citar os nomes de Mabel Rivera (a cunhada), espetacular pelo que seu silêncio tem de eloqüência; de Belén Rueda (a advogada) e de Lola Dueñas (a radialista).
Amenábar revela-se um diretor sensível e competente, trabalhando a emoção dos atores no limite, sem jamais forçar a barra; sem falar dos planos, enquadramentos e movimentos de câmera que – se conferem dinamismo ao filme – mostram também que o espaço do quarto de Ramón é muito pequeno para todos os seus sonhos.
São muitas as cenas desconcertantes e bem fotografadas. Vou citar duas delas por revelarem a importância que a liberdade tem para o ex-marinheiro. Na primeira, ele se vê levantando da cama, mudando-a de lugar para criar um corredor até a janela, por onde salta, ganhando o céu num vôo estonteante até a praia. Na outra, ele conta um sonho, descrevendo cada movimento de um prelúdio amoroso. Elas dizem tanto das coisas que ele gostaria de ter, que seu desejo maior passa a nos parecer justo. No final de "Mar adentro", é impossível não estar emocionado. Poucas vezes, a vontade de morrer traduziu-se num tributo à vida de maneira tão tocante e intensa.

janeiro 04, 2006

"Casa vazia"

(Bin-jip, 2004 - Kim Ki-Duk)
Casa vazia. Vida vazia. Peito vazio. Tudo no filme de Ki-Duk parece pedir ocupação. Como se um lar sem ninguém não fosse morada. Como se a existência nula fosse quase-morte. Como se a ausência de amor fosse uma dor só. A cada quadro, esperamos pelo momento do encontro: o dono da casa que vai voltar, uma pessoa que vá surpreender, o marido que vai descobrir, o amor que vai preencher e acompanhar. É surpreendente como os protagonistas conseguem fazer transbordar tanto sentimento sem dizer uma palavra sequer durante todo o filme... Talvez seja por isso que eu esteja com essa dificuldade para me expressar. Melhor não falar nada mais.

janeiro 03, 2006

"Em seu lugar"

(In her shoes, 2005 - Curtis Hanson)
Imagine duas irmãs que tenham em comum apenas o número do sapato. No mais, são diferentes em tudo (ops! em quase tudo, porque o desenrolar da história vai mostrar que elas têm outra coisa em comum). Uma trabalha, a outra não; uma é toda sexy, a outra é gordinha; uma rouba até do próprio pai, a outra é ética até não poder mais. A convivência é um barril de pólvora; mas a separação - elas descobrem tarde demais - é a explosão, com destruição, dor e cacos para todos os lados. Fui assistir a "Em seu lugar" esperando nada, e não é que o filme me surpreendeu?! Collette e Diaz em estado de graça (da primeira, eu sempre espero muito; mas da segunda... hehehehe) numa história de intrigas, descobertas e redenção. Na minha opinião, Hanson fez - com esse drama (ou seria comédia?) seu melhor filme depois de "Los Angeles - Cidade Proibida". 

"King Kong"

(King Kong, 2005 - Peter Jackson)
Com uma hora a menos de fita, "King Kong" seria bem melhor. As lutas com os tiranossauros me cansaram; as perseguições dos brontossauros e sua debandada, idem; o ataque dos insetos, ibidem. O que me encantou no filme - não, não foram as referências ao modo antigo de filmar, nem a reconstituição de Nova York dos anos 30 - foi a "química" entre o gorilão e a loirinha. Humanizar a relação dos dois deu vida nova à história. Faltou, depois disso, dar um sumiço no mocinho. Ou alguém estava torcendo por ele, depois de presenciar uma cena linda como aquela do lago congelado no Central Park? Ah, outra coisa: será que não dava para a equipe de maquiagem ter colocado um arranhãozinho que fosse nos braços e pernas (lindas, por sinal) da nossa mocinha, que despencou e rolou de alturas absurdas? 

"E se fosse verdade"

(Just like heaven, 2005 - Mark Waters)
É o filme mais bonitinho/bobinho da temporada. Elizabeth é uma workaholic; David, um ex-paisagista deprimido. O encontro entre os dois acontece de forma inusitada, indo da antipatia ao encantamento à medida que a verdade sobre eles vai sendo revelada. Esotérico ao extremo, conta com o carisma dos protagonistas (Mark Ruffalo e Reese Whiterspoon) a seu favor. E para funcionar, precisa que o público mergulhe de cabeça no seu mar de clichês (mas que comédia romântica não os tem?). Feito isso, os 95 minutos de duração passam rápido, embalados por uma trilha bacaninha que tem até "Just like heaven" do Cure.

janeiro 02, 2006

Outros muito bons de 2005

Muitos outros filmes também mereceram destaque na minha lista de 2005. São eles:

+ OS INCRÍVEIS, do Bird
+ OS SONHADORES, do Bertolucci
+ NÃO SE MOVA, do Castellitto
+ JORNADA DA ALMA, do Faenza
+ EU NÃO TENHO MEDO, do Salvatores
+ DESVENTURAS EM SÉRIE, do Silberling
+ A FLOR DO MEU SEGREDO, do Almodóvar
+ O EFEITO BORBOLETA, do Bress e do Gruber
+ A ARTE DE VIVER, do Lee
+ BEIJOS PROIBIDOS, do Truffaut
+ FANNY E ALEXANDER, do Bergman
+ HELLBOY, do Del Toro
+ SINDICATO DOS LADRÕES, do Kazan
+ PETER PAN, do Hogan
+ CONFIDÊNCIAS MUITO ÍNTIMAS, do Leconte
+ TENTAÇÃO, do Curran
+ CABRA-CEGA, do Venturi
+ O CASTELO ANIMADO, do Miyazagi
+ AS GAROTAS DO CALENDÁRIO, do Cole
+ A HORA DA ZONA MORTA, do Cronenberg
+ CAPITAL CIRCULANTE, do Mehedff
+ A CHAVE-MESTRA, do Softley
+ ÁGUA NEGRA, do Salles
+ CLEAN, do Assayas
+ HOTEL RUANDA, do George
+ O JARDINEIRO FIEL, do Meirelles
+ CRASH, do Haggis
+ AMOR PARA SEMPRE, do Michell
+ TUDO ACONTECE EM ELIZABETHTOWN, do Crowe
+ VINÍCIUS, do Lima Jr
+ EM SEU LUGAR, do Hanson

Os melhores dos 216 filmes de 2005

Em 2005, estive mais perto do cinema. Só para se ter uma idéia, em 2004 tinha visto 159 filmes; no ano passado, esse número subiu para 216 - e 128 deles vistos em salas de cinema. Muitos me emocionaram. Citarei alguns (filmes mais antigos, inclusive) na ordem em que os vi.

+ QUEIMANDO AO VENTO, do Soldini
+ PARA SEMPRE LYLIA, do Moodysson
+ SER E TER, do Philibert
+ O PÂNTANO, da Martel
+ CASA DE AREIA E NÉVOA, do Perelman
+ CONTRA A PAREDE, do Akin
+ DEZ, do Kiarostami
+ WHISKY, do Stoll e do Rebella
+ PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO... E PRIMAVERA, do Ki-duk
+ A JANELA DA FRENTE, do Ozpetek
+ TOLERÂNCIA ZERO, do Bean
+ PERTO DEMAIS, do Nichols
+ O AVIADOR, do Scorsese
+ ALFIE, O SEDUTOR, do Shyer
+ DOMICÍLIO CONJUGAL, do Truffaut
+ MENINA DE OURO, do Eastwood
+ SIDEWAYS, do Payne
+ 21 GRAMAS, do Iñárritu
+ MAR ADENTRO, do Amenábar
+ O AMOR CUSTA CARO, dos Coen
+ O LENHADOR, da Kassell
+ O DIA EM QUE DORIVAL ENCAROU A GUARDA, do Furtado e do Goulart
+ AMOR!, do Torero
+ O CLÃ DAS ADAGAS VOADORAS, do Yimou
+ ANTES DO PÔR-DO-SOL, do Linklater
+ MARIA CHEIA DE GRAÇA, do Marston
+ LÚCIA E O SEXO, do Medem
+ HERÓI, do Yimou
+ SWIMMING POOL, do Ozon
+ VIDA QUE SEGUE, do Silberling
+ A QUEDA!, do Hirschbiegel
+ A VIDA É UM MILAGRE, do Kusturica
+ CASA DE AREIA, do Waddington
+ BATMAN, do Nolan
+ PERSEGUIÇÃO, do Niemann
+ OLDBOY, do Park
+ SIN CITY, do Rodriguez
+ CAIU DO CÉU, do Boyle
+ ZAITOCHI, do Kitano
+ CHOQUE, do Radev
+ O CAMINHO DAS NUVENS, do Amorim
+ EXTERMÍNIO, do Boyle
+ CONFISSÕES DE UMA MENTE PERIGOSA, do Clooney
+ UMA ONDA NO AR, do Raton
+ MONSTER, da Jenkins
+ PANTALEÃO E AS VISITADORAS, do Lombardi
+ ALIEN, O 8º PASSAGEIRO, do Scott
+ HELTER SKELTER, do Gray
+ NINGUÉM PODE SABER, do Kore-eda
+ MACHUCA, do Wood
+ A LUTA PELA ESPERANÇA, do Howard
+ A NOIVA-CADÁVER, do Burton e do Johnson
+ MARCAS DA VIOLÊNCIA, do Cronenberg
+ CIDADE BAIXA, do Machado