março 29, 2006

"O plano perfeito"


(Inside man, 2006 - Spike Lee)
Um assalto a banco com muitos reféns. Tudo pensado nos mínimos detalhes. Mas a calma dos bandidos parece revelar outras intenções. E a intervenção do banqueiro entrega interesses maiores do que a preocupação com as cifras do cofre. Com um roteiro engenhoso, cheio de suspense e ação, Spike Lee fez um grande filme, afastando-se dos contéudos políticos-raciais que costuma abordar. Mas, calma: em segundo plano, essas discussões aparecem, seja no depoimento de um refém judeu; ou num cartaz referente ao "11 de Setembro" ou ainda nos porta-retratos na estante da sala de um milionário.

"Capote"

(Capote, 2005 - Bennett Miller)
O filme de Miller provocou em mim sensação parecida à do dia em que vi "Boa noite e boa sorte". É bem feito, tem um elenco afinado, mas não arrebata. Serviu para tirar a prova dos 9 em relação ao Oscar de melhor ator desse ano: a construção do personagem de Heath Ledger em "Brokeback Mountain" é muito superior ao trabalho de Philip Seymour Hoffman.

"O último Mitterrand"

(Le promeneur du Champ de Mars, 2004 - Robert Guédiguian)
Acometido por um câncer de próstata, o presidente François Mitterrand resolve narrar sua vida a um jovem jornalista de esquerda, revelando um lado bem pessimista em relação ao futuro da França após sua morte. Apesar da narrativa lenta, o filme de Guédiguian prende a atenção ao mesclar os comentários do estadista francês com os problemas emocionais do seu entrevistador. Impressiona a semelhança do ator Michel Bouquet com o líder político.

"Mulheres do Brasil"

(Mulheres do Brasil, 2006 - Malu de Martino)

7 mulheres, 5 histórias e 1 fracasso retumbante. A parte ficcional é fraquíssima; a documental, vergonhosa (diz nada ou quase nada de revelador). Elenco sub-aproveitado.

março 23, 2006

"Aeon Flux"

(Aeon Flux, 2005 - Karyn Kusama)
2011. Uma doença dizima 99% da população terrestre. O pequeno grupo que se salva vive numa cidade-redoma, protegida (?) da natureza ao redor, que retoma seu rumo. No entanto, a salvação tem um preço: 400 anos depois, as pessoas vivem sob o jugo de um núcleo de cientistas que - sob o pretexto de continuar protegendo a vida - controla tudo. Um grupo de rebeldes - liderado por Aeon Flux (Charlize Theron) - altamente treinado e munido de "brinquedinhos" da mais alta tecnologia resolve matar o líder dos cientistas e tomar o poder para retomar suas vidas. Mas o que parecia fácil, não se mostra assim. E a heroína vai tentar descobrir o que existe além do que se vê. "Aeon Flux" consegue prender a atenção com reviravoltas interessantes, efeitos especiais, muita ação e Charlize Theron mais linda do que nunca.

março 22, 2006

"A mulher do meu irmão"

(La mujer de mi hermano, 2005 - Ricardo de Montreuil)
Vivendo um casamento de 10 anos e sexualmente frio, esposa trai o marido empresário com o cunhado pintor. Noventa minutos e trocentos clichês depois, o filme termina sem deixar muitas saudades (a não ser da beleza estonteante de Bárbara Mori).

"A menina santa"

(La niña santa, 2004 - Lucrecia Martel)
Depois de "O pântano", Lucrecia Martel confirma que tem um jeito muito peculiar de filmar os sentimentos humanos. É tudo muito intenso e muito real, colocando cada cena perto demais do espectador. Não existem grandes tragédias para movimentar seu filme, mas são os pequenos dramas dos seus personagens que nos fazem virar na poltrona, é a humanidade deles que nos incomoda. Em "A menina santa", a diretora argentina aborda a sexualidade reprimida de duas amigas que expurgam seus desejos nas aulas de catequese católica - onde discutem as várias formas utilizadas por Deus para fazer o chamado para seus filhos. Mas os desejos carnais falam tão alto para a "menina santa" que ela passa a enxergar o sexo como um sinal divino para salvar os homens. Assim, onde se vê abuso sexual, ela enxerga a oportunidade de redenção do pecador. Martel vai conduzindo tudo de forma lenta mas inquietante, expondo o clímax minutos antes do final. A última cena pode inquietar os que querem um desfecho com todas as letras e imagens, mas reforçam sobremaneira a "santidade" da protagonista: tranqüila e feliz - como todos os que praticam o bem - ela flutua na piscina do hotel onde mora, enquanto a vida do seu "protegido" está sendo revirada lá dentro. Apesar de tudo isso, "A menina santa" não me arrebatou e, contrariando a maioria, acho " O pântano" melhor.

"Cinema, aspirinas e urubus"

(Cinema, aspirinas e urubus, 2005 - Marcelo Gomes)

Um alemão se refugia da Segunda Guerra Mundial vendendo aspirinas no sertão nordestino, onde um sertanejo foge do desemprego, da miséria e da fome. Para um, longe das bombas, tudo é maravilha; para o outro, a seca é que é a destruidora potente. Aliás, os urubus sobrevoando o céu são sinais da morte que ronda por perto. Enquanto sonha em ir para a cidade grande, Ranulpho atravessa o Nordeste ajudando Johann. Suas visões de mundo tão diferentes vão reforçando a amizade que surge para - pouco mais tarde - sofrer um golpe certeiro: o Brasil declara apoio aos aliados e passa a perseguir os alemães que estejam no território nacional. "Cinema, aspirinas e urubus" é simples assim, como são muitas coisas na vida, sem que isso lhes tire a beleza. E ainda conta a seu favor com as atuações brilhantes dos protagonistas, a espontaneidade - que entrega verdade - dos figurantes e a luz estourada, fotografando o sertão de uma maneira tão real, que é quase possível sentir o calor da poltrona do cinema. Ao contar a história do seu tio-avô, Marcelo Gomes fez uma estréia promissora.

"Boa noite e boa sorte"

(Good night, and good luck, 2005 - George Clooney)
Badaladíssimo, esse filme só me pegou pela fotografia em p&b, pelas aparições musicais de Diane Reeves jazzeando magnificamente e pela atuação precisa de David Strathairn. No mais, é um recorte morno sobre o embate da imprensa contra a caça aos comunistas pelo senador McCarthy. É bem feito - não resta dúvida - mas não empolga.

"Abc do amor"

(Little Manhattan, 2005 - Mark Levin)
Lembra "O primeiro amor", só que com muito mais humor. E escalar Josh Hutcherson para viver o garoto apaixonado foi um grande acerto. Acompanhá-lo narrando suas impressões, negações e conclusões sobre as várias fases de uma conquista amorosa é hilário. No meio disso tudo, ainda tem os pais dele em processo de divórcio. Pena que por aqui só tenha chegado a cópia dublada.

"Quase um segredo"

(Mean creek, 2004 - Jacob Aaron Estes)

Um grupo de amigos resolve dar uma lição em um garoto que está sempre surrando os colegas de escola. Durante a execução do plano, passam a conhecer um outro lado da suposta "vítima". Ainda assim, as coisas fogem do controle. "Quase um segredo" consegue manter um clima de suspense o tempo todo. O elenco mirim está perfeito, com atuações "adultas" para uma história que segue tranqüila, sem sobressaltos, até o final.


"Terra fria"

(North Country, 2005 - Niki Caro)
Com esse filme, a diretora de "A encantadora de baleias" deu um passo à frente. Ao retratar o preconceito em relação à contratação de mulheres em minas norte-americanas na década de 70, ela consegue arrancar uma boa atuação de Charlize Theron - que faz Josey, a funcionária que resolve mover o primeiro processo judicial contra a discrimação sexual da história dos EUA. Frances McDormand também está bem como integrante do sindicato dos mineradores. Apesar do final que me fez lembrar de filmes como "Será que ele é?" e "Sociedade dos Poetas Mortos", o desenrolar da história é bacana. Richard Jenkins tem um desempenho brilhante, revelando na medida a angústia de uma personagem que vive o drama de ser mineiro e pai de Josey. 

março 21, 2006

"Fora de rumo"

(Dirailed, 2005 - Mikael Håfström)
Aqui, uma atração fatal com conseqüências inusitadas e desfecho clichê. Apesar de tudo, "Fora de rumo" prende a atenção. E se não temos uma Jennifer Aniston inspirada, Clive Owen e Vincent Cassel (esse, principalmente) dão conta do recado e transformam o filme num thriller interessante.

"Filhote"

(Cachorro, 2004 – Miguel Albaladejo)

"Filhote" consegue fazer rir ao tratar de um assunto sério: adoção de crianças por homossexuais. Tudo começa quando a irmã viajandona de Pedro, um dentista gay, resolve fazer uma viagem para a Índia. Ela lida com a sexualidade do irmão bem até demais. O garoto ficaria com o tio por duas semanas, mas um contratempo faz com que esses poucos dias se prolonguem. É interessante acompanhar as peripécias de Pedro para despistar o sobrinho enquanto tenta tocar a vida com as "amigas" e namorados.

"Para sempre na minha vida"

(Come te nessuno mai, 1999 – Gabrielle Muccino)
O filme começa com várias notícias reais de conflitos que estão acontecendo ao redor do mundo. Depois, o foco passa para a privatização de uma escola, com sua ocupação por um grupo de alunos que é contra. Mas no meiso dos politizados, estão também alguns que só querem saber da sua "primeira noite". E é esse último grupo que "Para sempre na minha vida" acompanha mais de perto. É bem filmado, mas tem um quê de Malhação que me frustou.

março 09, 2006

3 filmes

O tempo está escasso, inclusive para ver filmes. Imagina para atualizar o blog! Abaixo, algumas considerações sobre os 3 a que assisti nas últimas 2 semanas.

"Adeus minha concubina"
(Ba wang bie ji, 1993 – Chen Kaige)
O que mudou de fato na China que abandonou a monarquia para abraçar o comunismo? Ao acompanhar a trajetória de dois grandes amigos que - sem família - passam a ser treinados desde garotos para integrarem a grande Ópera de Pequim, o filme vai retratando as mazelas que as transformações políticas vão infligindo ao povo chinês. Elenco impecável.

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"Quando as metralhadoras cospem"
(Bugsy Malone, 1976 - Alan Parker)
Imagina um filme de gângster onde todo o elenco é formado por crianças e as armas - ao invés de balas - cospem doces e tortas. Esse musical - o primeiro longa de Parker - é delicioso de assistir. E ainda traz a menina Jodie Foster no elenco.

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"Apenas um beijo" (Ae fond kiss..., 2004 - Ken Loach)
Uma história de amor inter-racial contada de maneira encantadora e sem maniqueísmo. Ela é uma irlandesa católica e ele um paquistanês muçulmano. A separá-los, as intransigências da fé respaldadas por família e empregos. O final é maravilhoso.