maio 30, 2006

"X-Men: O confronto final"

(X-Men: The last stand, 2006 - Brett Ratner)
A idéia da cura para a "doença mutante" é muito interessante. O fato do Magneto querer se apossar da descoberta para fortalecer seu exército também é. A aparição de personagens "inéditos", idem. Por que, então, o terceiro filme da série X-Men na telona não deu certo? Parece que o novo diretor preocupou-se muito com a ação e os efeitos especiais e pouco com a personalidade, com o drama das personagens (não conheço as hqs nem as animações, mas pelo que vi nos filmes anteriores, essa questão parece ser elemento primordial na saga deles). "X-Men III" promove um desfile de novos mutantes, mas não permite que eles se apresentem para o público, apenas deixa que demonstrem seus poderes. E a cura? Por dividir opiniões entre os principais interessados, tinha tudo para render boas discussões na história do "confronto final". Infelizmente, esse gancho fabuloso foi desperdiçado e explorado sem seriedade. Uma pena!

maio 29, 2006

"Tapete vermelho"

(Tapete vermelho, 2006 - Luiz Alberto Pereira)
Caipira apaixonado por Mazzaropi resolve dar ao filho um presente de aniversário inusitado: uma ida ao cinema mais próximo para assistirem a um filme do comediante. A família segue para essa jornada, sem saber que as salas de projeção do interior deram lugar a templos evangélicos. Assim, de cidade em cidade, vão-se deparando com casos de crendices sertanejas e, também, com a luta dos sem-terra e a fome dos meninos de rua. Nachtergaele "encarna" Mazzaropi com andado, postura e trejeitos idênticos; suas aparições são - sem dúvida - os melhores momentos do longa, que sofre um pouco com a quebra de ritmo causada pela interferência dos conflitos sociais (certamente, uma tentativa equivocada de atualizar a trama). Seu protesto na cidade grande para conseguir ver "Jeca Tatu" - numa seqüência que explica o título do filme - é hilária e emocionante. Gorete Milagres não consegue nos fazer esquecer de sua "Filó", mas isso não chega a comprometer.

PS: Desde a exibição de "Saló" do Pasolini, lá pelos idos da década de 80, não via a sala do Cine Cultura tão cheia. Isso comprova que o carisma de Mazzaropi vem atravessando gerações.

maio 26, 2006

"Rosencrantz e Guildenstern estão mortos"

(Rosencrantz & Guildenstern are deads, 1990 - Tom Stoppard)
Rosencrantz e Guildenstern são chamados pelo rei Cláudio para que se aproximem de Hamlet a fim de descobrirem se ele está doido ou é um farsante. Personagens secundários da tragédia de Shakespeare, os dois amigos do príncipe dinamarquês ganham papéis de protagonistas e passam o filme conjecturando sobre coincidência e fato, sorte e azar, vida e morte, atitude e acaso, impregnando de comédia dúvidas existenciais como a possibilidade de se fugir do próprio destino. Tudo funciona bem nessa estréia de Tom Stoppard: roteiro inteligente e ágil, ambientação, figurinos, iluminação, edição, atuações brilhantes de todo o elenco, direção de atores, tudo, tudo... Mas são de Tim Roth (de quem sou fã declarado) e Gary Oldman todas as glórias: eles estão soberbos nas peles dos atrapalhados e engraçados personagens-título. O filme funciona melhor para quem conhece a peça do bardo inglês.

maio 23, 2006

"O incrível exército de Brancaleone"

(L'armata Brancaleone, 1966 - Mario Monicelli)
É verdade. Até ontem, não havia visto essa comédia gostosa do Monicelli. Cavaleiro errante - inspirado em Dom Quixote - é abordado por um grupo de maltrapilhos que o convecem a atravessar a Itália para tomar uma cidade. Essa empreitada está assegurada por um pergaminho que garante ao portador a posse das terras. Em troca do documento, os ladrões querem a divisão dos bens depois da ocupação e se oferecem como soldados. Até chegar à tal cidade, muitas trapalhadas cercarão nosso "herói" num cenário devastado pelas guerras, peste e fome da Idade Média. Excelente atuação do galã Vittorio Gassman como o atrapalhado Brancaleone. E o diretor nos brinda com um final agitado, cheio de ação e mais risadas ainda.

"O código Da Vinci"

(The Da Vinci code, 2006 - Ron Howard)
Não li a obra de Dan Brown, mas "O código Da Vinci - o filme" é muito chato. Curador do Louvre é morto e deixa pistas sobre seu assassino no próprio corpo. A partir daí, perseguições e revelações vão se revezando na tela, sem criatividade nem surpresas. Mais de duas horas e quase uma dezena de bocejos depois, assisto ao final mais broxante dos últimos tempos. Tom Hanks e Audrey Tautou estão no piloto automático. É Paul Bettany - com seu monge atormentado - quem mais toca o público, numa interpretação intensa e correta. Mas só isso não salva esse projeto de centenas de milhões de dólares. Para isso, só um milagre ou um outro roteiro ou um outro diretor ou um outro filme.

maio 17, 2006

"Achados e perdidos"

(Achados e perdidos, 2005 - José Joffily)
Prostituta é encontrada morta em seu apartamento e policial que tem um relacionamento com ela é o suspeito número 1. Essa história até consegue nos envolver na primeira meia hora, mas o roteiro frouxo e prevísivel acaba por colocar tudo a perder. Na verdade, o achado do filme é Zezé Polessa, numa interpretação vivaz e convincente, bem diferente da atuação do restante do elenco.

"O veneno da madrugada"

(O veneno da madrugada, 2006 - Ruy Guerra)
Num vilarejo perdido no meio do nada em algum lugar do passado, trava-se uma guerra pelo poder entre a influente e tradicional família dos Assis e o administrador local. Chove ininterruptamente. Para complicar as coisas e aumentar a tensão, bilhetes anônimos revelando segredos e traições começam a aparecer nas portas de todos os moradores. Não é difícil imaginar onde isso vai dar. Ruy Guerra fez um filme poderoso: já nas primeiras cenas, ele consegue envolver a platéia com fotografia, edição e atuações primorosas. Para contar sua história, baseada em "A hora má" de Garcia Márquez, o diretor apresenta 3 ciclos do mesmo dia, em que muitas situações se repetem, só que com outros desfechos. Uma pena que o som de "O veneno da madrugada" não estivesse bom. Não sei se por problema da fita (menos provável) ou da sala (mais provável), o fato é que não consegui entender muitos diálogos. Mas ainda assim, o filme me impressionou.

maio 15, 2006

"No silêncio da noite"

(In a lonely place, 1950 - Nicholas Ray)
Roteirista de cinema torna-se o principal suspeito do assassinato de uma balconista. Mas o depoimento de uma vizinha acaba por inocentá-lo. As investigações prosseguem e aquele álibi abre as portas para uma grande história de amor. O problema é que o acusado tem um temperamento agressivo, com uma ficha corrida de queixas na delegacia. A desconfiança vai-se infiltrando devagarzinho naquela relação. Nicholas Ray constrói um filme intrigante, arracando interpretações muito boas de Humphrey Bogart e Gloria Grahame e criando uma atmosfera de dúvida e tensão que envolve quem assiste, desde as primeiras cenas até o desfecho fabuloso.

"Ultravioleta"

(Ultraviolet, 2006 - Kurt Wimmer)
Num futuro distante, um experimento científico para tornar seres humanos mais fortes, velozes e inteligentes acaba fugindo do controle: consegue agregar essas características mas transforma as pessoas em "hemófagos", criaturas mutantes "metade gente-metade vampiro". Essa sub-raça passa a ser perseguida e exterminada e, conseqüentemente, se rebela. Milla Jojovich é Ultravioleta, uma representante dos rebeldes que luta o tempo todo agarrada a uma esperança de cura. O problema do filme é que a história, a heroína, o vilão, os coadjuvantes e os superpoderes não convencem. Nada empolga de fato. É uma sucessão de lutas e fugas bobas protagonizadas (?) por atores perdidos num roteiro (?) infantilóide. Guardada uma distância bem considerável, "Ultravioleta" lembra "Aeon Flux", com suas mutações, intrigas e manipulações governistas pelo poder. Mas as comparações param por aí, porque o placar final coloca Charlize Theron muito à frente de Milla Jovovich.

maio 12, 2006

"Tudo por dinheiro"

(Two for the money, 2005 - D. J. Caruso)
Lang é um ex-atleta do futebol americano que trabalha no programa de rádio de uma pequena cidade dando palpites sobre os placares das partidas. Como ele acerta um percentual muito alto, acaba chamando a atenção de Walter - um grande empresário do ramo de apostas em Nova York - que resolve investir todas as suas fichas no moço. Na Big Apple, Lang muda de nome, vira estrela e fatura bastante para convencer apostadores milionários a investir nas suas previsões. Mas as coisas não dão certo o tempo todo: à medida que mergulha nas neuroses do mundo das apostas de Walter, Lang vai se distanciando dos seus sonhos, transformando-se noutra pessoa. A química entre a dupla Pacino-McConaughey garante bons momentos, o que acontece também com a coadjuvante Rene Russo (que faz a esposa do chefão, uma ex-viciada em drogas). O filme vai ficando mais interessante à medida que a personalidade de Walter é revelada, com todas as suas angústias, dependências, fraquezas e tendências à auto-destruição.

"16 quadras"

(16 blocks, 2006 - Richard Donner)
Bruce Willis faz um tira cansado e desmotivado que é escalado para conduzir uma testemunha-chave até o tribunal a 16 quadras da delegacia. O que ele não sabia era que o garoto iria depor em um processo para apurar corrupção nos quadros da polícia. Logo no início, fica claro que estão maquinando para que o "escoltado" não chegue vivo até a juíza. Não é difícil descobrir quem são os maiores interessados nessa execução. A partir daí, o filme vira um corre-corre só, afinal é preciso chegar ao local do julgamento em - no máximo - 2 horas. Enquanto fogem, policial e testemunha desenvolvem uma relação de amizade (um dos inúmeros clichê da história) que vai transformar suas vidas. As atuações mecânicas e as situações óbvias comprometem muito o resultado final do filme. Não chega a dar sono, mas não impressiona em nenhum momento.

maio 08, 2006

"Terapia do amor"

(Prime, 2005 - Ben Younger)
Mulher recém-divorciada conta em suas sessões de análise que está mantendo um romance com um rapaz 14 anos mais novo. Tudo estaria bem se o moço não fosse o filho da terapeuta. O filme é engraçadinho, mas não passa disso, apesar das boas atuações de Uma Thurman e Meryl Streep (aliás, as duas juntas em cena é o que o filme tem de melhor).

maio 03, 2006

"Irmãos"

(Son frère, 2003 - Patrice Chéreau)
Thomas e Luc são irmãos que não se vêem há anos. E a distância não é apenas geográfica. Mas uma doença rara, misteriosa e praticamente incurável vai forçar a reaproximação. Ao buscar a ajuda do irmão mais novo, Thomas mexe em feridas antigas. Aos poucos, mesmo mergulhados em muita dor e desesperança, eles vão (re)encontrando um afeto que parecia nunca ter existido. "Irmãos" é um filme igualmente triste e belo. É triste porque o roteiro não faz concessões: os perdões não preenchem ausências, não voltam as horas, não resgatam o passado. E é belo porque assim é toda entrega e toda (re)descoberta de amor, de carinho, de cuidado, de confiança. O que é construído a partir daquele encontro não recupera o tempo perdido, mas traz à tona sentimentos que fazem valer a pena cada segundo dali para a frente. Ao quebrar a ordem cronológica dos acontecimentos, misturando presente e futuro, o diretor parece querer enfatizar as transformações que a convivência provoca nos irmãos, entregando - sem problemas - a evolução da doença de Thomas. Assim, vemos primeiro uma cicatriz para depois sabermos da indicação de uma cirurgia. Outra coisa interessante é que, só na parte final do filme, me dei conta de que até aquele momento - em que a voz de Marianne Faithfull invande a cena com a canção "Sleep" - o diretor não tinha usado música alguma: criar uma trilha para sublinhar emoções tão intensas parecia mesmo desnecessário. É preciso registrar ainda as atuações excepcionais dos atores Bruno Todeschini e Eric Caravaca.

"O sol de cada manhã"

(The weather man, 2005 - Gore Verbinski)
Apresentador da previsão do tempo de um canal de Chicago recebe proposta de uma rede nacional de tv. O que deveria ser comemorado efusivamente acaba sendo ofuscado pelo caos de sua vida pessoal: o pai (Michael Caine roubando todas as cenas) está doente e com pouco tempo de vida, a ex-esposa (que ele quer reconquistar) está feliz, os filhos adolescentes (cuja guarda é dele) passam por problemas acentuados pela sua "ausência". Parece ser um pacote de situações interessantes para se fazer um bom filme. Mas o diretor não consegue amarrar todos esses pontos de maneira a construir uma teia mais densa. Acaba ficando no superficial, optando por mostrar o "fim" e não os "meios". Talvez seja muito para alguém cuja filmografia é capitaneada por sucessos como "O chamado" e "Piratas do Caribe". As cenas em que objetos são lançados sobre o "homem do tempo" em plena rua são bobas e desnecessárias: o riso que elas tentam provocar é totalmente deslocado (se alguém quiser me convencer da importância da recorrência dos arremessos, por favor sinta-se à vontade e fique já com o meu agradecimento).