novembro 27, 2007

"Propriedade privada"

(Nue propriété, 2006 - Joachim Lafosse)
A maneira desrespeitosa com que um dos filhos se refere à mãe, na primeira cena de "Propriedade Privada", já entrega o caos emocional em que vive aquela família. Divorciada há 15 anos, Pascale (Isabelle Huppet em mais uma soberba interpretação) mora com dois filhos já bem grandinhos, mas dependentes e imaturos. Quando a mãe resolve que deve vender a casa para dar uma quinada na vida em busca da própria felicidade, os pimpolhos (interpretados pelos irmãos Jérémie - de “A criança”, já comentado aqui - e Yannick Rénier) se vêem perdendo o teto e o bom senso. François tenta entender e até se encaixar nessa nova realidade. Já Thierry parte para o confronto. A partir desse ponto, vemos o tamanho do abismo em que se encontram aquelas relações e vamos conhecendo melhor cada integrante dessa rede de angústias e conflitos. Se dentro de casa, a luz é pouca; tampouco temos fora dela uma atmosfera ensolarada, o que também contribui para deixar o espectador um tanto sufocado diante do clima tenso que vai-se delineando ao longo dessa história de ruptura e explosão iminente. Aliás, a ausência de trilha sonora (a não ser no finalzinho) parece ser outra opção para não dar alívio nenhum à platéia. Se - como já foi dito - Huppert arrebenta na composição dessa mãe distante, muitas vezes omissa, os Rénier também constroem muito bem suas personagens, com brincadeiras e brigas que nos lembram os irmãos bíblicos Caim e Abel. Aliás, todo o elenco - enxuto e absurdamente entrosado - merece reverência. "Propriedade Privada" é um filme cuja contenção de planos, diálogos, luz e som só contribui para desnudar o conflito que oprime seus protagonistas.

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