dezembro 07, 2007

"No vale das sombras"

(In the valley of Elah, 2007 - Paul Haggis)
Na sua segunda investida como diretor, Haggis volta as lentes para a sociedade americana e a guerra do Iraque. Tommy Lee Jones - numa interpretação contida e serena - é um militar aposentado que se orgulha do seu país, do seu governo e do exército norte-americano... até o dia em que seu filho - que lutara no Golfo - desaparece e é considerado um desertor. Como ele não acredita nessa hipótese, parte em busca da verdade, confrontando militares, investigadores e colegas do jovem combatente. Nesse percurso lento e doloroso pelo passado recente do filho, o pai vai mergulhando na realidade crua, dilacerante e nada gloriosa das guerras, cheia de medos, mentiras, traumas e descasos. As verdades que vão sendo reveladas mostram as feridas abertas com que os cidadãos norte-americanos têm convivido desde os atentados de 11 de setembro. E em "No vale das sombras", Haggis coloca-se como porta-voz desse sentimento. A cena final (que poderia ser bem mais impactante se não tivesse uma outra quase idêntica no começo do filme) é um evidente pedido de socorro.

"Os donos da noite"

(We own the night, 2007 - James Gray)
O filme começa. Uma sequência de fotos em preto-e-branco mostrando ações policiais passam pela tela, sem nenhum som. De repente, um corte para a exuberante Amada Juarez (Eva Mendes) masturbando-se para o namorado (Joaquin Phoenix), com todas as cores e ao som de um clássico das discotecas dos anos 80. Que mudança! E olha que essa nem vai ser a mais surpreendente de "Os donos da noite". Phoenix é Bobby, um cara que sabe curtir a vida. Ele dirige um badalado nightclub no Bronx, ponto de tráfico dominado pela máfia russa, cujo chefão o trata como "filho". Fora isso, ele tem irmão (Mark Wahlberg) e pai (Robert Duvall) que são membros do alto escalão da polícia novaiorquina. Já deu para ver que o reencontro familiar será questão de tempo, né? Se você estranhou o fato de um queridinho dos mafiosos ser parente próximo de combatentes do narcotráfico, isso parece não ter incomodado o roteirista e diretor James Gray. (Primeiro deslize). Mas se você engolir isso (e eu aconselho que o faça), vai assistir - até por volta dos 20 minutos finais - a um thriller policial espetacular, com situações envolventes e convincentes, num jogo de gato-e-rato cheio de surpresas, onde felinos e roedores são igualmente inteligentes e audaciosos. É tensão verdadeiramente crescente e sufocante até o final da sessão (e isso não é pouca coisa não!). A cena da perseguição nas ruas da cidade sob chuva torrencial é fantástica. O segundo deslize vem exatamente nas últimas cenas (conforme mencionado anteriormente), quando tudo descamba para um dramalhão bobo, com soluções fáceis (o embate entre bandido e mocinho no capinzal é frustrante) e mensagens edificantes. Ainda assim, vale a pena ver.

dezembro 05, 2007

"Medos privados em lugares públicos"

(Coeurs, 2006 - Alain Resnais)
O amor é particular e reservado, só quem tem o sentimento no peito sabe o que verdadeiramente se passa. Já o relacionamento é coletivo, entrega-se - no mínimo para outra pessoa - o que somos e sentimos. Talvez por isso, circulando entre personagens maravilhosos, bem construídos e interpretados por um elenco espetacular (com Sabine Azéma à frente), quem se destaca mesmo no filme é a neve, que cai incessantemente sobre uma Paris dos dias atuais. Nós vemos os flocos brancos já na panorâmica inicial e - até mesmo - dentro de casa. E eles simbolizam muito bem o frio que ronda todas as situações dessa história de solidão. "Medos privados em lugares públicos" não é outra coisa senão a busca constante por companhia. Assim, temos Lionel (o garçom do bar de um grande hotel) que conversa todas as noites com Dan (um cliente desempregado) que está saindo com Gaelle (uma solteirona que marca encontros através de classificados de jornal) que mora com o irmão mais velho Thierry (corretor de imóveis que não consegue encontrar - para a cliente Nicole - o apartamento ideal) que é apaixonado por Charlotte (secretária da imobiliária e senhora muito religiosa) que cuida de um idoso doente que é pai do garçom solitário do início dessa ciranda. A teia de sentimentos com que Alain Resnais trabalha é vasta e nos envolve completamente ao longo de 2 horas que não vemos passar. É como se ele colocasse todos os personagens num labirinto (aquele plano do alto, com Nicole e Thierry "descobrindo" o apartamento reforça bem essa sensação). E todos parecem perdidos, no meio de seus segredos e frustrações, sem saber que caminho tomar, e sempre separados do outro por barreiras físicas - já não bastassem as emocionais: divisórias, cortinas, paredes, grade, folhas de jornal... A própria neve parece um véu a esconder o outro lado da rua, a congelar a possibilidades de entrega e calor. E até mesmo quando tentam romper os bloqueios, os personagens se escondem atrás de apelidos, de desculpas, de fantasias eróticas, de fotografias... Nada mais do que o medo de se expor, o medo do outro.

"A vida dos outros"

(Das leben der anderen, 2006 - Florian Henckel von Donnersmarck)
A história se passa pouco antes da queda do Muro de Berlim. Wiesler (Ulrich Mühe) é um agente da Stasi - polícia política da República Democrática Alemã - e professor da Escola de Segurança do Estado. Aliás, o filme começa com uma demonstração de como arrancar a confissão de um suspeito. Seu método deixa indignado até os próprios alunos. O clima na Alemanha Oriental é de perseguição aos traidores do regime. Wiesler desconfia, inclusive, de Georg Dreyman, o único dramaturgo não-subversivo da RDA. A partir de uma insinuação do Ministro da Cultura (cujos interesses ficam claros no decorrer da projeção), o agente começa a espionagem, com grampos e escutas espalhados pelo apartamento do escritor. E relatórios minuto-a-minuto de todos os encontros e conversas. Naquele universo fértil de amizades, amor, desejos, música e literatura, Wiesler encontra bem mais do que procurava. Tal descoberta deixa a investigação ainda mais complicada, fazendo com que o espião repense sua conduta e estratégia. Talvez essa mudança seja o único "senão" de "A vida dos outros". E se ela não chega a convencer, contribui - por outro lado - para elevar a intensidade das emoções na segunda metade do filme, cheia de suspense e surpresas. A atuação de todo o elenco é - sem exceção - muito boa. Mas - justiça seja feita - Ulrich Mühe consegue se destacar, com uma interpretação contida - sofrida até - do agente que descobre o que não devia. Preste atenção na expressão dele com um livro de Bertold Bretch nas mãos e - claro - na cena da livraria.

dezembro 03, 2007

"O último concerto de rock"

(The last waltz, 1978 - Martin Scorsese)
São Francisco, 1976. Após 16 anos de sucesso, os integrantes da "The Band" decidem encerrar a gloriosa carreira da banda com um show de despedida no dia de Ação de Graças. Poderia ter sido um simples adeus, mas virou uma celebração quando os músicos resolveram convidar um grupo de artistas para cantar com eles e - ninguém menos que - Martin Scorsese para fazer o registro. O diretor norte-americano vinha do bem-sucedido "Taxi Driver" e estava realizando "New York , New York". Aceitou o convite. O tempo para a produção era curtíssimo e a grana mais ainda. Scorsese conseguiu - com um amigo produtor - parte do cenário da ópera "La Traviata", trabalhou com poucas câmeras e utilizou a luz com parcimônia e criatividade. O diretor sugeriu a inserção de pequenas entrevistas entre as canções. Com os depoimentos de Robbie Robertson, Rick Dango, Levon Helm, Garth Hudson e Richard Manuel, o filme ganhava uma história e Scorsese criava seu documentário - aparecendo, inclusive, em muitas cenas. Entre as estrelas que dividiram o palco com os anfitriões estavam - para citar apenas algumas - Joni Mitchell, Bob Dylan, Neil Young, Emmylou Harris (sim, ela mesma, a intérprete da canção "A love that will never grow old", da trilha de "Brobeback Mountain"), Ringo Starr, Staple Singers e Muddy Waters. Aliás, por pouco as imagens dessa lenda do blues não ficaram de fora. Como o show era extenso (7 horas) e a quantidade de rolos de filme reduzida, as câmeras tinham de ser desligadas de tempos em tempos, até mesmo para dar um descando para os seus operadores. Quando Scorsese percebeu a maravilha que estava perdendo, ordenou que todos os cinegrafistas voltassem a postos. Mas até se posicionarem outra vez, a canção "Manish boy" já estava quase no fim. Por sorte, um dos cinegrafistas não tinha interrompido suas filmagens (observe que a performance de Waters é mostrada praticamente a partir de um só ângulo). Essas e outras curiosidades estão nos comentários. Não dá para dizer mais: veja o filme e curta o show (não necessariamente nessa ordem).

novembro 29, 2007

"O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford"

(The assassination of Jesse James by the coward Robert Ford, 2007 - Andrew Dominik)
Ao entregar já no título o que poderia ser o mistério da história, o diretor neozelandês faz um filme onde o foco está muito mais na construção dos personagens do que na ação propriamente dita. Assim, ao longo de duas horas e meia, acompanhamos o duelo velado entre o bandido-herói e seu algoz. A história se passa no final do século XIX, quando Jesse James - aos 34 anos - já tornara-se um mito, com seus delitos narrados em libretos. Bob Ford é um garoto de 19 anos cujo sonho é fazer parte do bando de James, que àquela altura planejava um último assalto antes da aposentadoria. Uma ligação de afeto e desconfiança se estabelece imediatamente entre os dois. E é exatamente sobre essa antítese sentimental que o filme vai construindo todo seu suspense. Jesse James não é um herói tradicional, 100% mocinho. Sua cabeça está a prêmio. Ele desconfia da própria sombra. É violento e - algumas vezes - injusto. Robert Ford é o fã que quer ser igual ao seu ídolo. Aliás, quer mais: quer se tornar o próprio objeto de sua veneração. Brad Pitt já levou o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza. E não é preciso mais do que 30 minutos de projeção para entender porquê: do bandido justiceiro ao pai de família devotado, uma série de emoções - que vão da frieza e contenção à loucura e explosão - acompanha e enriquece seu personagem. E o ator soube trazer à tona cada uma delas de maneira memoravelmente cativante. Para isso, teve um parceiro à altura: Casey Affleck consegue impregnar seu Bob Ford de uma ambigüidade moral que incomoda desde a primeira cena. Até passar de adorador a assassino, vai criando um antagonista visivelmente instável, enquanto sonha virar herói. E o faz não por bravura, mas por medo. É esse o fantasma que irá acompanhá-lo até a morte. "O assassinato de Jesse James..." é repleto de plano e contra-plano, como pede o embate emocional desenhado pelo roteiro. E seu ritmo é deliciosamente lento, dando tempo para que a platéia possa "degustar" toda a nuance de sentimentos revelada em cada cena. A narração em off é utilizada de maneira inteligente e inusitada, antecipando o que irá acontecer. E sempre que esse recurso aparece, o diretor opta por distorcer a imagem, ficando nítido o centro da tela e borradas as laterais, traduzindo assim sua maneira de contar a saga de Jesse James: foco apenas nos conflitos interiores, como se tudo o mais que acontece ao redor (quase) não importasse.

novembro 27, 2007

"Propriedade privada"

(Nue propriété, 2006 - Joachim Lafosse)
A maneira desrespeitosa com que um dos filhos se refere à mãe, na primeira cena de "Propriedade Privada", já entrega o caos emocional em que vive aquela família. Divorciada há 15 anos, Pascale (Isabelle Huppet em mais uma soberba interpretação) mora com dois filhos já bem grandinhos, mas dependentes e imaturos. Quando a mãe resolve que deve vender a casa para dar uma quinada na vida em busca da própria felicidade, os pimpolhos (interpretados pelos irmãos Jérémie - de “A criança”, já comentado aqui - e Yannick Rénier) se vêem perdendo o teto e o bom senso. François tenta entender e até se encaixar nessa nova realidade. Já Thierry parte para o confronto. A partir desse ponto, vemos o tamanho do abismo em que se encontram aquelas relações e vamos conhecendo melhor cada integrante dessa rede de angústias e conflitos. Se dentro de casa, a luz é pouca; tampouco temos fora dela uma atmosfera ensolarada, o que também contribui para deixar o espectador um tanto sufocado diante do clima tenso que vai-se delineando ao longo dessa história de ruptura e explosão iminente. Aliás, a ausência de trilha sonora (a não ser no finalzinho) parece ser outra opção para não dar alívio nenhum à platéia. Se - como já foi dito - Huppert arrebenta na composição dessa mãe distante, muitas vezes omissa, os Rénier também constroem muito bem suas personagens, com brincadeiras e brigas que nos lembram os irmãos bíblicos Caim e Abel. Aliás, todo o elenco - enxuto e absurdamente entrosado - merece reverência. "Propriedade Privada" é um filme cuja contenção de planos, diálogos, luz e som só contribui para desnudar o conflito que oprime seus protagonistas.

julho 17, 2007

"Marcas da vida"

(Red Road, 2006 - Andrea Arnold)
Jackie é uma funcionária da vigilância urbana de Glasgow. Ao ficar observando os movimentos suspeitos (e não) da população através de um sistema de câmeras espalhadas por toda a cidade, ela parece querer esconder os seus traumas. Na festa de casamento de sua cunhada, é sutilmente revelado o motivo da tristeza e da solidão daquela mulher. Fora do trabalho, não tem vida (a não ser pelos encontros fortuitos e vazios com um homem casado). No entanto, ela reencontra um homem que tem muito a ver com o seu passado e angústia. Obcecada, passa a vigiá-lo eletrônica e pessoalmente, freqüentando os ambientes do moço. Ela tem um plano para acertar as contas e vai levá-lo às últimas consequências até fazer justiça com as próprias mãos. Trabalho de estréia em longas da diretora inglesa, "Marcas da vida" consegue criar um suspense que nos envolve e nos faz acompanhar a amargura de Jackie minuto após minuto, tentando adivinhar o que ela será capaz de fazer. E o roteiro inteligente e sagaz vai nos surpreendendo até mesmo quando achamos que está tudo terminado. É um filme silencioso, de poucas falas, mas absurdamente eloquente, que foi festejado em Cannes e no BAFTA e que tem passado quase batido por aqui.

"Ratatouille"

(Ratatouille, 2007 - Brad Bird)
Remy é um ratinho do interior da França que - diferente dos seus companheiros - não gosta de lixo, tem um olfato apuradíssimo e um sonho bem peculiar: ser um chef de cozinha. Um acidente com sua colônia acaba por lançá-lo nos esgotos de Paris. Dali para os fogões de um restaurante, é uma corridinha. Ao colocar um roedor no comando de panelas e temperos, a Disney cria uma fábula de superação, onde o sonho está ao alcance de quem acredita. O desenho é tecnicamente perfeito, tem uma história encantadora, situações muito engraçadas e uma cena (já) antológica: aquela em que o cruel crítico gastronômico é tocado pela magia de um prato preparado pelo ratinho. Para ver e rever e rever...

PS: "Quase abduzido (Lifted)" é o nome do curta de animação que antecede a projeção de "Ratatouille" e narra a desventura de um extra-terrestre ao tentar praticar sua primeira abdução. Gargalhadas garantidas.

"O tigre e a neve"

(La tigre e la neve, 2005 - Roberto Benigni)
A guerra agora é a do Iraque, para onde vai o professor - vivido por Benigni - a fim de cuidar de sua amada, uma escritora que fazia uma entrevista para o seu próximo livro, quando foi vítima de um atentado. Se em "A vida é bela", o diretor conseguiu contar uma história trágica com um certo encanto, aqui ele se perde em equívocos e trapalhadas e põe tudo a perder. Nada emociona.

"Harry Potter e a Ordem da Fênix"

(Harry Potter and the Order of the Phoenix, 2007 - David Yates)
Tão sombria quanto "O prisioneiro de Azkaban", essa quinta parte da saga do bruxinho de Hogwarts traz menos ação e mais drama, mais tensão. O crescimento e as mudanças físicas dos atores-mirins pareceM emprestar mais credibilidade aos personagens, que se vêm às voltas com as artimanhas de Você-Sabe-Quem para acertar de vez as contas com Harry Potter. O garoto, por sua vez, vai contar com a ajuda da Ordem de Fênix, uma organização secreta de bruxos, da qual seus pais participaram. E ele vai precisar mesmo, porque a nova diretora de Hogwarts - interpretada magistralmente por Imelda Staunton, de "Vera Drake" - faz de tudo para controlar quaisquer movimentos que possam atrapalhar os planos de Lorde Voldemort. A sobriedade com que David Yates conta essa história, sem excessos, com as emoções na medida certa, é ponto forte no belo resultado final. Mas é claro que existem algumas (diga-se de passagem, muito boas) cenas - como as do gêmeos sabotando o dia de provas ou da perseguição na Galeria das Profecisas - com a marca registrada da grandiloqüência e do tom aventuresco da série. Que venha "O enigma do Príncipe".

"A conquista da honra"

(Flags of our fathers, 2006 - Clint Eastwood)

1945. A bandeira dos Estados Unidos é colocada sobre o Monte Suribachi, na Ilha de Iwo Jima. A foto daquele instante histórico era tudo de que o governo norte-americano precisava para levantar fundos e dar continuidade à guerra. E os jovens combatentes que aparecem no registro fotográfico viraram garotos-propaganda dessa jogada de marketing, percorrendo o país inteiro pedindo donativos. Tudo maravilhoso se não fosse por um detalhe: eles não eram os protagonistas daquela façanha. Os soldados que ergueram a bandeira pela primeira vez não foram fotografados. O "click" que ganhou o mundo e o prêmio Pulitzer foi, na verdade, uma encenação. Assim, o filme aborda o dilema moral desses garotos que sabiam que não eram merecedores de toda aquela glória e que os verdadeiros heróis estavam mortos na ilha japonesa. A fotografia de cores bem lavadas do filme, com tudo praticamente em tons de cinza, reforça esse sentimento de vergonha e de anti-heroísmo, como se a ausência de cores pudesse ocultar aquela farsa. A narrativa não-linear funciona bem e - se nos confunde em alguns momentos - é para retratar a perturbação que os soldados farsantes enfrentavam. A narração em off é desnecessária, assim como aqueles didáticos e explícitos 20 minutos finais.

"Paixão sem limites"

(Asylum, 2005 - David Mackenzie)
Essa história de amor densa - e tensa ao extremo - passa longe do romantismo que o título em português sugere. A bela Natasha Richardson (filha da veterana Vanessa Redgrave) é a esposa de um psiquiatra londrino que é nomeado superintendente de um sanatório. Refinada, essa mulher passa a viver isolada da alta sociedade londrina nos anos 1950 e, entediada, envolve-se com um sedutor paciente, internado por ter matado toda a família. Essa relação de entrega e posse pega fogo em todos os sentidos, fugindo do controle dos seus protagonistas, colocando em xeque a sanidade mental dos dois. O diretor Mackenzie consegue criar um filme intenso que prende a atenção, surpreende em muitos momentos e tem um final para lá de coerente. Não é preciso dizer que as atuações de Natasha Richardson e de Ian McKellen (como o médico preterido ao cargo de superintendente) contribuem sobremaneira para o clima de transe que envolve quem assiste a essa produção.

"Eragon"

(Eragon, 2006 - Stefen Fangmeier)
Houve uma época em que os Cavaleiros do Dragão defendiam o mundo e eram praticamente imortais. Mas tornaram-se arrogantes com o passar do tempo. Foram, por fim, dizimados por um governante tirano e explorador (ele mesmo um ex-cavaleiro), que ordenou que todos os dragões fossem extintos. Até o dia em que um garoto acha uma estranha pedra azul na floresta. Tal encontro vai meter o jovem em muitas encrencas que culminarão com o cumprimento da profecia de que um cavaleiro do dragão renasceria para libertar seu povo. "Eragon" é uma aventura bem feita, um filme para ser assistido com um balde de pipoca do lado.

"Sob o domínio do medo"

(Straw dogs, 1971 - Sam Peckinpah)
David (Dustin Hoffman) é um matemático que se mudou para o interior da Inglaterra em busca de paz para concluir seus estudos. Sua esposa (Susan George), bonita, jovem e sensual demais para os padrões daquela pequena aldeia, começa a mexer com a imaginação da população masculina. O caos se instaura quando o casal resolve contratar o grupo de trabalhadores para reformar sua garagem. Por parecer um fraco (inclusive, sexualmente) no meio de uma comunidade de homens rudes e beberrões, o matemático é cercado por desprezo, inclusive dos seus empregados, que não se intimidam e passam a invadir a vida dos "estrangeiros" de todas as maneiras. O que se vê a partir do momento em que David se sente literalmente acuado é a explosão da ira pela defesa da honra, da propriedade, da própria integridade física e moral. É soco no estômago. É Peckinpah em grande estilo.

"A grande família - O filme"

(A grande família - O filme, 2007 - Maurício Farias)
Após passar mal, Lineu vai ao médico. Suspeitando estar com uma doença grave, resolve ocultar tudo da família. Preocupado e deprimido, desiste de ir ao tradicional baile em que conheceu Nenê. É aí que aparece um ex-pretendente de sua esposa. Enciumado e com a cabeça cheia de caraminholas por causa dos conselhos do patrão Mendonça, ele chega - inclusive - a ensaiar um romance com uma funcionária da sua repartição (Dira Paes, numa participação especial). Por ter o mesmo formato da televisão, o filme parece longo demais, com o episódio sendo esticado à exaustão (será por isso que a estória é contada de 3 formas diferentes a partir das supostas mudanças de atitute do personagem Lineu?). Mas graças à afinidade do elenco e à "pureza" do humor realizado pela trupe toda, "A grande família" escapa do desastre total. Mas poderia ser bem melhor.

"Perfume: a história de um assassino"

(Perfume: the story of a murderer, 2006 - Tom Tykwer)
"Perfume", o livro de Süskind, fez parte da minha adolescência. Impressionou-me muito a saga daquele jovem pelo odor que colocaria o mundo a seus pés. E essa história me perseguiu por anos a fio, nas conversas entre amigos sobre bons romances. E qual não foi minha surpresa ao saber que ele saltaria das págians para as telonas. Apesar da direção de arte e da fotografia deslumbrantes, a narrativa não consegue reproduzir o mesmo clima de suspense que a literatura conseguiu. As mortes se sucedem, mas não escandalizam quem assiste, não instigam. E assim, a monotonia vai se instalando na ação do filme, enquanto o assassino perfumista segue seu objetivo: produzir o perfume perfeito. Mas justiça seja feita: a cena da catarse final é espetacular. E a atriz Rachel Hurd-Wood, mais ruiva do que nunca, parece uma pintura, de tão bela.

"Deja vu"

(Deja vu, 2006 - Tony Scott)
Ao ver o trailer com Denzel Washington fazendo o policial super-herói, a impressão que se tem é exatamente a de já ter visto aquilo antes. Mas ao reinventar a história da máquina do tempo numa trama cheia de idas e vindas, do presente ao passado recente, o filme consegue nos envolver, garantindo um bom programa de ação para aquele domingo modorrento.

"O diabo veste Prada"

(The devil wears Prada, 2006 - David Frankel)
Essa comédia é um exemplo perfeito do que uma grande atriz pode fazer por um filme. Sem um sorrisinho sequer, Meryl Streep consegue nos fazer gargalhar com a tirania de sua personagem, uma celebridade do mundo da moda às voltas com todas as picuinhas desse universo. Esqueça o resto e foque toda sua atenção nela. É satisfação garantida.

junho 05, 2007

"Na cama"

(En la cama, 2005 - Matías Bize)
Uma festa, poucas palavras e muito desejo num quarto de motel. Totalmente estranhos um ao outro (e até por isso mesmo), eles começam a falar de suas vidas, revelando medos e segredos, contando piadas e idealizando sonhos. Entre uma transa e outra, os desconhecidos vão descobrindo afinidades (ou será que elas só aparecem porque aquela fantasia irá acabar quando pagarem a conta?). Guardadas as devidas proporções, "Na cama" é o "Antes do pôr-do-sol" latinoamericano. Repleto de diálogos inteligentes e com atuações muito boas de Blanca Lewin e Gonzalo Valenzuela, o longa chileno faz um mergulho na solidão e revela personagens tão carentes e encantadores que nos faz torcer por um final feliz (por mais absurdo que isso possa parecer).

junho 04, 2007

"Diamante de sangue"

(Blood diamond, 2006 - Edward Zwick)
Fim dos anos 1990, guerra civil em Serra Leoa. Salomon (Djimon Hounson) é separado da esposa e filhos e levado como "escravo" a um campo de mineração de diamantes. Encontra uma imensa pedra cor-de-rosa e a esconde, no exato momento em que o governo ataca os rebeldes. Ele é preso e a história do diamante encontrado chega aos ouvidos do mercenário Danny Archer (Leo DiCaprio), que propõe tirá-lo da prisão e ajudá-lo a reencontrar sua família. Muito corre-corre, tiros e explosões no meio da miséria e das desigualdades africanas. Não fosse pelo final redentor, seria um filme bem coerente.

junho 03, 2007

"Homem-Aranha 3"

(Spider-Man 3, 2007 - Sam Raimi)
Superprodução de efeitos especiais extraordinários que traz o Homem-Aranha enfrentando dois novos vilões (Homem-Areia e Venom), a ira do filho do Duende Verde (cuja sequência de duelo com o super-herói das teias logo no início da projeção é, de longe, a melhor do filme) e o lado sombrio da vingança peterparkeriana (o uniforme negro nos apresenta uma outra personalidade do Aranha). Tudo parece perfeito para o sucesso (e, comercialmente, as bilheterias confirmam isso), mas a terceira parte da trilogia aracnídea consegue ser apenas um quase bom filme.

"Babel"

(Babel, 2006 - Alejandro González-Iñárritu)
Um tiro ingenuamente disparado no alto das montanhas atinge uma turista americana que viaja pelo Marrocos com o esposo, levantando a possibilidade de uma ação terrorista. Num local sem recursos, o ferimento - aparentemente simples - retarda a volta do casal para casa, onde uma empregada mexicana havia ficado cuidando das crianças. A doméstica, que vive de forma ilegal nos Estados Unidos, se vê diante de um impasse: tem de atravessar a fronteira para o casamento do seu filho, mas não contava com o não-retorno dos patrões: levar ou não levar "los niños", eis a questão. As investigações indicam que o tiro foi disparado de um rifle cujo dono mora em Tóquio e tem uma filha adolescente surda-muda cheia de conflitos e traumas. Bem por alto, essa é sinopse de Babel (título interessante porque, a exemplo do aconteceu na torre bíblica, existe um problema de comunicação entre os personagens: independentemente do idioma falado, eles não conseguem se entender). Não achei o filme o "horror" que tantos pintaram. Mas é óbvio que o roteiro já não guarda o frescor das produções anteriores do diretor, como "Amores brutos" e "21 gramas". O recurso de uma história se entrelaçando com a outra já não surpreende tanto (sem falar que a parte da japonesinha problemática não consegue se colar ao restante da obra). Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael García Bernal estão muito bem, mas quem rouba a cena é a atriz Adriana Barraza (sua interpretação da "housecleaner" clandestina rendeu-lhe uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante).

"Zodíaco"

(Zodiac, 2007 - David Fincher)
Califórnia, final da década de 1960. Casal de namorados é morto na beira de uma estrada. Alguns dias depois, o assassino escreve para os jornais revelando detalhes do crime e exigindo a publicação de uma carta cifrada, sob a pena de fazer novas vítimas. A imprensa cede e, mesmo assim, as mortes continuam. Apesar de chegar a alguns nomes, a polícia não consegue levantar provas. E é o cartunista de um dos jornais, vivido por Jake Gyllenhaal, obcecado por aquele mistério desde o início, quem tenta desvendar o enigma quando o caso é abandonado. A direção de Fincher merece elogios, mas a montagem poderia ter  deixado o filme mais instigante e ágil, deletando ou enxugando algumas cenas. Com exceção da sequência inicial - um exemplo de suspense bem feito - que consegue mexer com os nervos do público, todo o resto não envolve. O roteiro não consegue instigar, não é construído de maneira a transformar quem assiste à película num investigador. E para um suspense policial, isso só leva a uma conclusão: frustração.

"O amor não tira férias"

(The holiday, 2006 - Nancy Meyers)
Kate Winslet e Cameron Diaz vivem duas mulheres com desilusões amorosas que, através da internet descobrem um site de intercâmbio de casas e resolvem mudar de ares. E cada uma delas acaba conhecendo o "causador da infelicidade" da outra. Poderá o "traste" de uma relação tornar-se o "príncipe" de outra? O cartaz do filme já entrega essa charada. Nancy Meyers - que me fez rolar de rir em "Alguém tem de ceder" - entrega aqui um filme vazio, simplista e bobo. Um desperdício de elenco, que ainda conta com as presenças de Jude Law e Jack Black.

fevereiro 15, 2007

O segredo de Brokeback Mountain

(Brokeback Mountain, 2005 - Ang Lee)
Esqueça todas as simplificações óbvias que foram usadas para descrever esse filme. "Brokeback Mountain" trata de solidão... E para ser mais preciso, de solidão a dois, aquela que surge quando o amor assumido não consegue quebrar as barreiras que separam duas pessoas do sonho de uma vida compartilhada, sob o mesmo teto, todos os dias. Saber que a felicidade está tão próxima e não conseguir agarrá-la é extremamente angustiante. Por motivos distintos, os caubóis Ennis e Jack (Heath Ledger e Jake Gyllenhaal nos papéis de suas vidas) sofrem com essa situação por anos a fio. E ter a certeza de que tudo poderia ser diferente causa mais dor ainda. Ang Lee aborda esses sentimentos contraditórios com tanta sinceridade e delicadeza que conseguiu criar um dos filmes mais belos e comoventes a que assisti.


PS: Escrevi esse texto a pedido do Chico Fireman (idealizador da Liga dos Blogues Cinematográficos/LBC, link aí ao lado) para ilustrar as indicações dos finalistas ao Alfred 2006 (prêmio que os integrantes da LBC conferem às melhores películas exibidas no circuito comercial brasileiro). Resolvi reproduzi-lo aqui como forma de comemorar a conquista de melhor filme do ano - ao lado de "O novo mundo", do Mallick - concedida nesta noite à obra-prima do Ang Lee por 64 blogueiros cinéfilos de todo o Brasil. A "parte IV" do título refere-se ao número de vezes que o filme já apareceu no Cine Dema(i)s. Sua vitória confirma o que escrevi - no dia 2/2/06 - após tê-lo assistido pela primeira vez: "É o filme do ano".

fevereiro 07, 2007

"Os infiltrados"

(The departed, 2006 - Martin Scorsese)
Tem muita gente dizendo que esse é um filme menor do Scorsese. Discordo. Ao mergulhar no submundo do crime organizado, com uma história engenhosa onde um policial é infiltrado entre os criminosos e um bandido incorporado à polícia de Boston, o diretor nos entrega uma grande obra, com edição primorosa, ritmo alucinante e interpretações inquestionáveis, como as de Jack Nicholson e Leonardo DiCaprio - só para ficar com duas delas. Repito: "Os infiltrados" é um legítimo filho de Martin, com todas as virtudes que tal descendência possa significar.

fevereiro 06, 2007

"O ilusionista"

(The illusionist, 2006 - Neil Burger)
No início do século XIX, um mágico deslumbra (e assombra) a população vienense com seus truques. Incomodado com a repercussão do espetáculo, o princípe da cidade determina que o tal ilusionista seja investigado, sem saber que - na verdade - ele está em Viena para reconquistar um grande amor do passado. A premissa é muito boa, mas o desenrolar da história fica amarrado demais nas mágicas, o filme perde o ritmo, torna-se chato e... no final, ainda perde a classe com um desfecho rocambolesco e absurdo. Uma pena!

"Volver"

(Volver, 2006 - Pedro Almodóvar)
Penélope Cruz está mais 'poderosa' do que nunca, física e dramaturgicamente falando. Sua personagem é uma mulher batalhadora, órfã, casada com um desempregado fracassado e mãe de uma adolescente. As coisas não poderiam ficar piores? Errado! Um dia, ao chegar em casa, ela encontra o esposo morto no chão da cozinha, assassinado pela própria filha. Por um motivo que só descobriremos mais no final do filme, ela compreende a filha e faz de tudo para protegê-la. Envolvida nessa missão materna, acaba mergulhada no seu passado ao visitar a casa de uma tia que diz conviver com a irmã morta. Daí até o final da película, Almodóvar nos brinda com emoções e conflitos, recordações e mágoas... Constrói uma história maravilhosa, ancorada por um elenco espetacular, onde é difícil dizer quem está melhor. Como já disse no começo, Mrs. Cruz dá um show. Carmem Maura, idem. Para mim, "Volver" é Almodóvar em grande estilo.

fevereiro 05, 2007

"O céu de Suely"

(O céu de Suely, 2006 - Karim Ainouz)
O sonho de prosperar na grande São Paulo tinha acabado para Hermila, que voltara para o interior nordestino com um filho nos braços. Cansada de esperar o namorado que prometera vir ao seu encontro e diante da falta de perspectivas daquela cidadezinha, ela resolve rifar uma noite de amor para conseguir o dinheiro que precisa para tentar a vida bem longe dali outra vez. É quando um antigo amor aparece prometendo cuidar dela. O enigma da moça passa a ser, então, o de identificar se a felicidade está ali tão pertinho ou numa cidade do sul do Brasil... e que preço quer pagar por ela. Com um elenco cativante, em que a atriz Hermila Guedes é a estrela absoluta, o filme de Ainouz é - ao lado de "O veneno da madrugada", de Ruy Guerra - o melhor filme brasileiro de 2006. E tem um final arrebatador... porque a busca da felicidade justifica todas as escolhas.

"A criança"

(L'enfant, 2005 - Jean-Pierre & Luc Dardenne)
A adolescente Sonia deixa a penitenciária e sai à procura de Bruno. E traz para ele uma novidade que pode mudar a vida do casal: um filho. No entanto, o namorado - que vive de pequenos furtos praticados por menores que ele comanda a la Oliver Twist e a quem protege como se fossem seus filhos - encara a criança também como uma possibilidade de fazer dinheiro, sem perceber que a mãe tem outros planos. A partir de uma atitude banal para Bruno e absurda para Sonia, instala-se o conflito entre os jovens, desencadeando uma série de acontecimentos que vai empurrar a vida dele(s) para o amadurecimento. A câmera nervosa dos irmãos Dardenne casa bem com o clima de tensão do filme que levou a Palma de Ouro de Cannes e é - sem dúvida -uma das melhores produções exibidas nos cinemas brasileiros no ano passado.

"O labirinto do fauno"

(El laberinto del fauno, 2006 - Guillermo del Toro)
No final da guerra civil espanhola, lá pelos idos de 1944, viúva se casa com um oficial fascista e vai morar na região de Navarro - onde um grupo de rebeldes ainda luta contra o regime ditatorial - e leva consigo uma filha de 10 an0s, a doce e sonhadora Ofelia. Vivendo num ambiente muito hostil, comandado por um padrasto cruel (interpretado magistralmente por Sergi López), a garota encontra refúgio na fantasia dos livros. Enquanto foge da dura realidade, ela mergulha nas aventuras dos contos de fada e - ao vencer os desafios ali - parece se fortalecer para enfrentar a opressão que lhe aguarda em casa. A fusão desses dois mundos é o grande trunfo do filme de Toro. Atenção para as atuações também excelentes da atriz mirim Ivana Baquero e da (bela) veterana Maribel Verdú (de "Sedução - Belle Epóque"), que faz a cozinheira amiga da menina.

"Eu me lembro"

(Eu me lembro, 2006 - Edgard Navarro)
O filme conta a vida de Guiga durante as décadas de 50, 60 e 70, fazendo um paralelo com os acontecimentos políticos e sociais do Brasil de então. As aventuras do garoto - de longe a melhor parte da história - me fizeram lembrar de "Minha vida de cachorro", do Lasse Hallstrom. Mas o encantamento com que Navarro envolve o público no início se perde no terço final de "Eu me lembro", ao focar o movimento hippie, a revolução sexual, a descoberta das drogas... Detalhe: a direção de arte tem a co-participação do goiano Shell Jr.

janeiro 28, 2007

"Eu, você e todos nós"

(Me and you and everyone you know, 2005 - Miranda July)
"Eu, você e todos nós" parece ser mais uma película que bebeu da fonte de "Short cuts" do Altman para contar uma história de pequenos dramas humanos que se entrelaçam. Tem uma artista plástica frustada (que vive como motorista de táxi para idosos) que se apaixona por um vendedor de sapatos (recém-separado) que vive com os dois filhos menores que estão sempre plugados na internet e nas suas (perigosas) salas de bate-papo. Essas e outras histórias vão formando um imenso (e intenso) emaranhado de sentimentos onde a solidão dá a tônica. O filme - que é o longa de estréia da diretora - me surpreendeu e deixou a impressão de que Miranda July tem cacife para nos brindar com outras boas surpresas.

"Pai, filhos & etc"

(Père et fils, 2003 - Michel Boujenah)
O grande (e saudoso) Philippe Noiret é a alma desse filme que conta a história de um pai que diz estar muito doente para reunir os três filhos (dois deles não se falam) e realizar seu "suposto" último desejo: uma viagem a Quebec para ver as baleias na praia. E aí, muita roupa suja é lavada, verdades e mentiras expostas, drama e risos alternando momentos marcantes.

janeiro 21, 2007

"Pequena Miss Sunshine"

(Little Miss Sunshine, 2006 - Jonathan Dayton & Valerie Faris)
Pense numa família desequilibrada... Triplique o que você imaginou... Isso, os Hoover são (quase) isso! Agora, dê uma olhada na cara da garotinha de maiô vermelho da foto acima. Pois é essa menina e seu sonho de ser uma pequena miss que vai colocar todos os desajustados nos eixos. Repleto de situações hilariantes, o filme conta com a força de um elenco afinadíssimo, carismático e que parece ter realmente se divertido para construir essa fábula sobre sonhos e superações. Ah, e duvido que você consiga tirar os olhos da pequena-grande atriz Abigail Breslin: sua atuação é hipnotizante e a construção do seu personagem é tão natural que eu arrisco dizer que estamos diante de um autêntico talento da sétima arte.

"Do luto à luta"

(Do luto à luta, 2005 - Evaldo Mocarzel)
Esse documentário apresenta as dificuldades e superações, desafios e conquistas, tristezas e alegrias que envolvem o universo dos portadores da Síndrome de Down. É uma pena que, no seu terço final, o filme perca o ritmo e provoque uma certa impaciência ao focar - por exemplo - a rotina de dois jovens que querem ser cineastas.

"Deu a louca na Chapeuzinho"

(Hoodwinked, 2005 - Cory Edwards)
Tecnicamente, a animação nem é lá grande coisa, mas a idéia de construir uma história policial a partir da fábula da Chapeuzinho Vermelho é espetacular. E com um detalhe interessante: para descobrir quem roubou o livro de receitas, a trama é contada e recontada por cada um dos quatro suspeitos: a menina do capuz encarnado, sua vovozinha, o Lobo Mau e o lenhador. Muito legal. Agora, impagável mesmo é a participação para lá de especial do bode que, devido a uma maldição, fala tudo cantando. Sua aparição é - de longe - um dos pontos altos do filme.

"O sacrifício"

(The wicker man, 2006 - Neil LaBute)
Alguém pode me explicar o que a maravilhosa Ellen Burstyn, de "Réquiem para um sonho", está fazendo aqui? "O sacrifício" começa de maneira até interessante: a cena do acidente presenciado pelo atormentado policial vivido por Nicolas Cage impressiona e nos persegue durante boa parte do filme que, depois de uns 30 minutos, cai no óbvio do óbvio do óbvio...

"As torres gêmeas"

(World Trade Center, 2006 - Oliver Stone)
O 11 de Setembro pela visão de dois soldados que ficam presos sob os escombros: é isso que Stone nos oferece. Mas de uma maneira pouco criativa, quase preguiçosa. Para mim, a atuação de Maggie Gyllenhaal é umas das poucas razões para se assistir ao filme.

janeiro 20, 2007

"Menina má.com"

(Hard candy, 2005 - David Slade)
O roteiro pode até ser meio maniqueísta, mas é incontestável que a mistura de elementos como pedofilia e vingança dá nos nervos e prende a atenção. Pena que o título em português entregue de cara o temperamento da protagonista.