maio 20, 2008

"Sicko - $O$ Saúde"

(Sicko, 2007 - Michael Moore)
Costuma-se dizer que os filmes de Michael Moore são falsos documentários, por causa do caráter manipulador do diretor. Para mim, o que interessa é que ele toca na ferida e faz o público pensar bastante sobre os temas abordados. Foi assim com “Tiros em Columbine”, sobre a obsessão dos cidadãos norte-americanos por armas de fogo, mostrando – dentre outras coisas – a facilidade de adquiri-las, bastando chegar na loja, pedir o modelo desejado, pagar e sair. Algo tão simples como comprar uma camiseta.
Agora, em “Sicko - $O$ Saúde”, ele aponta sua câmera para a máfia dos planos de saúde na Terra do Tio Sam, com seus valores altíssimos (e inacessíveis para quase 50% da população) e restrições absurdas, incluindo pagamento de bônus aos médicos-peritos com percentual diretamente proporcional ao número de exames e procedimentos negados aos pacientes. Moore ilustra toda essa sordidez entrevistando um grupo de doentes americanos. Seus dramas beiram o absurdo.
A fim de incitar ainda mais o público e os "mafiosos empresários e políticos", o diretor resolve visitar países como Canadá, Inglaterra e França - tão capitalistas quanto os EUA - para entender seus sistemas de saúde socializada. O que vemos a partir de então é inacreditável: em todas essas nações, o paciente é (muito bem) atendido, qualquer que seja sua necessidade, sem encargo algum. Há inclusive casos em que o hospital paga até a passagem de volta para casa, quando o enfermo não tem condições financeiras de fazê-lo.
“Para cuidar assim do seu povo, então esses governantes não devem pagar seus profissionais de saúde a contento”, instiga Moore num dado momento, para em seguida mostrar o Astra e o sobrado de US$ 1 milhão de um dos médicos europeus. “Então, o gargalo está no cidadão, que deve pagar uma carga tributária monstruosa”, continua Moore. Qual o quê! A maior preocupação de um casal de classe média entrevistado é com o preço do pescado e com as viagens de férias(!). E as mamães francesas?! Além da licença-maternidade, elas ganham o auxílio de uma assistente (entenda-se babá, faxineira, cozinheira...), de 2 a 3 vezes por semana, com tudo pago... pelo governo.
Mas é na parte final que vem a alfinetada maior: o provocador Moore leva o grupo de americanos para ser examinado e tratado em Cuba. E mais não direi. A não ser que saí do cinema estarrecido, escandalizado e indignado com o caos da sáude norte-americana. Por quê? Porque qualquer semelhança com o que enfrentamos no Brasil não é mera coincidência.

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