junho 25, 2008

" A enguia"


(Unagi, 1997 - Shohei Imamura)
Um esposo traído. Uma jovem que ama um homem casado. Emocionalmente perdidos e feridos, essa dupla se conhece no subúrbio de Tóquio: ele tentando recomeçar longe de tudo e de todos; ela querendo pôr um fim na vida. É o encontro da armadura de um com a fragilidade da outra, da dureza dele com a doçura dela. Que uma transformação virá, fica claro desde o início. Mas Imamura vai construindo sua história sem concessões, sem saídas fáceis. Os empecilhos para a (possível) felicidade surgem ininterruptamente... E a enguia com isso? Vamos a um pouco de biologia: é um peixe que se desloca com facilidade, migra dos riachos doces para o salgado mar, consegue viver em águas pouco oxigenadas, camufla-se junto a plantas e pedras... No filme, não por acaso, a enguia é o animal de estimação do homem que está buscando se adaptar a uma nova vida. Qualquer analogia não é mera coincidência e uma última semelhança é revelada no final do longa. A atuação de Kôji Yakusho (mais conhecido por "Babel" e "Memórias de uma gueixa") é perfeita, construindo um personagem que está sempre no limite, seja da violência, do ciúme ou da entrega, mas que ganha a cumplicidade do público já nas primeiras cenas. "A enguia" dividiu, em 1997, a Palma de Ouro em Cannes com o excelente e intrigante "Gosto de cereja", do mestre do cinema iraniano Abbas Kiarostami.

PS: Como parte das comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil, o Cinemark (!) do Shopping Santa Cruz (SP) levou ao público, de 13 a 19 de junho, um Festival de Cinema Japonês a preços populares (!!): R$ 4. [(!) porque o Cinemark só costuma exibir blockbusters. (!!) porque o preço dos ingressos lá (e em outras redes) é um absurdo. Cinema tinha de ser um entretenimento acessível e não a alternativa elitista que se tornou]. Mas voltando ao festival: foram exibidos "Ninguém pode saber (Hirokazu Kore-eda)", "O castelo animado (Hayao Miyazaki)", "Água quente sob uma ponte vermelha (Shohei Imamura)", A enguia (Shohei Imamura)", "Postman Blues (Hiroyuki Tanaka)", "Escola do Riso (Mamoru Hoshi)" e "O samurai do entardecer (Yoji Yamada)". Queria ter assistido aos quatro últimos (que eu ainda não conhecia). Vi três.

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