junho 20, 2008

"O Signo da Cidade"

(O Signo da Cidade, 2007 - Carlos Alberto Riccelli)
Quem anda pelas ruas de São Paulo percebe a mistura de constrastes que envolve essa bela e assustadora cidade. Os sinais mais evidentes, até por estarem sempre nas manchetes, são a violência, a poluição, os engarrafamentos monstruosos, a desigualdade social, o corre-corre da população, etc. Um olhar mais atento registra também a beleza dos seus parques, a qualidade e variedade da sua culinária, a riqueza da sua arquitetura, as incontáveis opções culturais, a agitação das suas noites-sem-fim, a generosidade dos paulistanos... E essa ambigüidade que - para o bem e para o mal - compõe a diversidade de Sampa é a força motriz de “O Signo da Cidade”.
Escrito e estrelado por Bruna Lombardi (cada vez mais bela) e dirigido por Carlos Alberto Riccelli, o filme é um instigante drama sobre os altos e baixos de um grupo de pessoas que - por um motivo ou outro - tem seus destinos entrelaçados. Ao se cruzarem, essas tantas vidas vão tecendo uma extensa malha de pequenas solidões, frustrações e angústias, representadas por separações, suicídio, dificuldades financeiras, doença, depressão, preconceito, aborto, traições, conflitos familiares e mais uma infinidade de desventuras.
Por tudo isso, fica evidente que o clima de “O Signo da Cidade” é pesado (e é mesmo!). E muitos elementos colaboram para passar essa idéia de sufoco e desespero: a fotografia com pouca luz em inúmeras cenas; o desconforto dos pequenos espaços (estúdio da rádio, camarim da casa de shows, quarto de hotel imundo, sala entulhada de objetos, etc); a câmera que (quase nunca) se distancia dos atores; as locações escuras dos becos e ruas... No entanto, em função da premissa que norteou o roteiro, de que todas as coisas estão interligadas e nada acontece por acaso, os momentos de solidariedade e transformação vão ganhando mais destaque à medida que o final se aproxima, convertendo-se numa aposta otimista dos seus realizadores diante da realidade cruel, individualista e cinzenta que segue reinando no iluminado século XXI.
O elenco - que mistura nomes conhecidos (Bruna Lombardi, Eva Wilma, Ana Rosa, Juca de Oliveira, Denise Fraga, Malvino Salvador, Graziella Moretto, Fernando Alves Pinto, Luís Miranda) a jovens talentos - é muito feliz ao abraçar com igual interesse as virtudes e imperfeições dos seus personagens. O fato de não serem totalmente bons ou maus, certos ou errados, confiantes ou inseguros auxilia na idenficação, fazendo com que o público se veja em muitas daquelas situações. E isso é um mérito inconstestável do filme, talvez o que mais contribua para render os elogios que vem recebendo de crítica e público.

Nenhum comentário: