Depois da recente e polêmica produção do diretor indiano M. Night Shyamalan ter abordado uma reação de auto-proteção da natureza para salvar o planeta da ação predatória do homem, eis que chegou às telas brasileiras, na semana passada, um outro longa que toca no assunto. Só que dessa vez, o mundo já está inabitável, sem uma forma de vida sequer. Mas sabe o que é mais interessante? O filme em questão é (mais) uma célebre animação da Pixar (isso mesmo, desenho animado), responsável por sucessos como “Toy Story”, “Monstros S/A”, “Procurando Nemo”, “Os Incríveis” e “Ratatouille”.
“Wall-E” começa com uma panorâmica do que parece ser uma grande metrópole com seus incontáveis e gigantescos arranha-céus. À medida que o plano vai-se fechando, percebemos que os edíficios são, na verdade, imensas torres de lixo. Em seguida, vemos um pequeno e solitário robô (que lembra o E.T. de Spielberg, com seus olhos grandes, pescoço longo e corpo compacto) , envolvido numa rotina diária de limpar a sujeira que os humanos acumularam na Terra, até esgotarem todos os recursos naturais e partirem numa viagem espacial a bordo da astronave Axioma, com o propósito de dar um tempo para o meio ambiente se recuperar e os robôs limparem tudo. Detalhe: já se passaram mais de 700 anos, nenhuma forma de vida foi detectada e Wall-E é a única máquina que ainda resiste.

O que primeiro chama a atenção na nova animação da Pixar é a quase-ausência de diálogos. Nos primeiros 20 minutos, não há nenhum. E mesmo depois, eles se restrigem ao essencialmente necessário. Como no clássicos do cinema mudo, a interação surge em situações corriqueiras, que vão fazendo graça e arrancando risos à medida que desvendam o dia-a-dia dos personagens. É assim, por exemplo, quando o robozinho quase atropela sua baratinha de estimação ou quando Wall-E tenta fazer com que a superpoderosa (e igualmente desajeitada) Eva dê um giro em torno de si mesma, como fazem os dançarinos do seu musical preferido. Tanto silêncio numa produção inicialmente voltada para o público infantil parece ter sido uma decisão arriscada, mas - logo se percebe - perfeitamente sintonizada com a falta de comunicação e laços dos humanos do século XXIX, retratados como pessoas sedentárias, solitárias, que só se comunicam através dos meios eletrônicos, absurdamente influenciadas pela publicidade e muitíssimo consumistas. Qualquer semelhança com a atualidade não é mero acaso.

Para a criançada, que não pega a maioria dessas alusões, fica uma linda história com foco no respeito à natureza e na ação transformadora da solidariedade, temas bastantes caros atualmente. Não fosse isso já suficiente, ainda há bastante diversão, que - na segunda metade do longa - fica a cargo das trapalhadas de Wall-E dentro da ultra-sofisticada nave espacial e dos amigos desajustados que ele encontra enquanto tenta escapar de uma perseguição. Por tudo isso e por tantas outras citações e cenas memoráveis (que eu deixo para você descobrir), o novo filme da Pixar é um marco da animação (e do cinema!). E já nasce com cara de clássico.
2 comentários:
São poucos os filmes que deixam uma impressão tão positiva após o fim da sessão, com cara de clássico mesmo. "WALL-E" não é uma obra-prima apenas por ser mais uma adorável animação da Pixar, mas especialmente pela mensagem transmitida de forma inesquecível. Provavelmente o melhor filme do gênero que já vi!
É isso mesmo, Vinícius. E dessa vez a Pixar acertou a mão sob todos os aspectos. "Wall-E" encanta da primeira à última cena.
Abração
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