janeiro 17, 2006

"Bom dia, noite"

(Buongiorno, notte, 2003 - Marco Bellocchio)
O seqüestro de Aldo Moro - primeiro ministro italiano e líder da Democracia Cristã - executado pelo grupo extremista "Brigada Vermelha" e ocorrido em 1978 é o tema de "Bom dia, Noite". Digo tema porque a alma do filme é mesmo Chiara (Maya Sansa), uma das poucas personagens fictícias da história, mas exatamente o contrapeso, o que tem de questionamento no meio de tantas certezas, de emoção no meio de toda aquela razão, de feminino no meio de um mundo de homens. Integrante do BV, ela se entusiama com o sucesso do plano para depois transformar-se no principal elemento dissonante do grupo. Suas dúvidas, seus pensamentos, seus sonhos vão entrando em sintonia com os sentimentos do público. E exatamente por isso, o final do filme surpreende. O apartamento com cortinas fechadas, pouca luz e barulho nenhum vira um ambiente altamente claustrofóbico que converte o cativeiro do seqüestrado numa espécie de prisão dos seus algozes. Adoro a cena em que um colega de trabalho da seqüestradora fala sobre o livro que está escrevendo: é a metalinguagem usada de forma inteligente para frisar as mudanças que estão acontecendo com Chiara. Ao misturar ficção e imagens reais do incidente, o diretor consegue impregnar o filme de uma verdade atual, que incomoda e faz refletir.

PS: Antes da sessão, assisti ao trailer de "O segredo Brokeback Mountain". E pelo que vi, Ang Lee parece merecer todos os louros que vem recebendo. Agora, é aguardar o lançamento.

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