agosto 29, 2008

"Quando estou amando"

(Quand j'éstais chanteur, 2006 - Xavier Giannoli)
É impressionante a produtividade de Gérard Depardieu. Só para se ter uma idéia do quanto esse ator trabalha, ele está envolvido atualmente, segundo dados do IMDb, em 12 projetos, entre as fases de pré-produção e finalização. Pena que o que chega a estrear nas salas brasileiras seja tão pouco, ficando muitas vezes restrito a blockbusters como “102 dálmatas” (2000) ou comédias (de gosto duvidoso) como “As férias da minha vida” (2006) e “RRRrrr!!! Na idade da pedra” (2004). Ainda assim, nos últimos dois anos, foi possível vê-lo em um dos curtas do ótimo “Paris, te amo” (2006), em que ele também ataca de co-diretor, e no bom “Piaf – Um hino ao amor”, numa ponta como o empresário que descobriu Edith.
“Quando estou amando”, em cartaz no Brasil, é um outro exemplo do belo trabalho desse francês que tem mais de uma centena de filmes no currículo, com trabalhos magníficos como “1900” (Bernardo Bertolucci, 1976), “Meu tio da América” (Alain Resnais, 1980), “Danton - O processo da revolução” (Andrzej Wajda, 1983), “Jean de Florette” (Claude Berri, 1986), “Camille Claudel” (Bruno Nuytten, 1988), “Linda demais para você” (Bertrand Blier, 1989) e “Cyrano de Bergerac” (Jean-Paul Rappeneau, 1990), pelo qual foi indicado ao Oscar de melhor ator. Falar tanto de Depardieu no início dessa matéria se justifica: a sua presença tem tudo a ver com a graça e o encanto que embalam o público nesse novo trabalho. Claro que a beleza e o talento da atriz Cécile De France (“Um lugar na platéia” e “O albergue espanhol”) também ajudam muito.
Alain Morreau (Depardieu) é um famoso cantor de bailes, muito conhecido nas casas de shows do interior da França, freqüentadas por velhos corações solitários. Apesar disso, a carreira está em curva descendente, tanto que a presença de jovens nos salões é festejada como sinal de renovação. E é exatamente a visão da deslumbrante Marion (De France) que vai sacudir a vida dele, mais pessoal do que profissionalmente falando. Ela está ali acompanhando o chefe e amigo Bruno (Mathieu Amalric, de “O escafandro e a borboleta”). Encantado por Marion, o cantor parte para a conquista. Resistente a princípio, a jovem acaba descobrindo no velho astro da música francesa, um companheiro para as desilusões e amarguras que ela vem vivendo.
Estabelece-se entre os dois uma relação cordial, ainda que Alain – um eterno sedutor – esteja a fim de algo mais intenso. Para mantê-la por perto, ele contrata seus serviços como corretora de imóveis, embora fique claro que um novo lar não é uma necessidade real. Na verdade, o coração do músico é a casa que ele quer ver habitada e decorada novamente. O filme não entra em detalhes sobre os motivos do fim do casamento de Marion, mas mostra as dores e as seqüelas que a ruptura deixou. Não demora muito para que o cantor perceba que essa instabilidade emocional da moça, cuja relação com o filho de seis anos tem prioridade sob todas as coisas, é um empecilho praticamente intransponível para a aproximação que ele procura.
A atuação de Depardieu é tão segura, intensa e convincente, que não causa estranheza em momento algum que seu personagem, velho, gordo e decadente, consiga envolver a bela Marion. Não bastasse isso, o ator ainda canta boa parte da trilha sonora que resgata clássicos absolutos da música popular francesa, sucessos de Serge Gainsbourg, Charles Aznavour, Michel Delpech, Jean-Michel Rivat e Christophe, dentre outros. Preste atenção na seqüência em que Bruno pede que Alain cante uma música lenta para dançar com Marion. A mistura de ciúme e dor expressa no olhar do cantor é o exemplo perfeito de como construir um grande personagem e uma cena igualmente memorável: a canção escolhida é uma versão de “Save the last dance for me”, dos norte-americanos Doc Pomus e Mort Shuman. Sem sombra de dúvida, Depardieu encontrou em Alain Moreau e Cécile De France, o papel e a atriz perfeitos para dar vazão ao seu inquestionável e imensurável talento.

4 comentários:

Rafael Carvalho disse...

O único comentário que eu tinha lido sobre esse filme fala muito bem do Derpadieu também. Mas o resto do elenco me interessou bastante. Esperarei ansiosmanete para poder ver.

Alex Gonçalves disse...

Demas, como vai?

Muitos críticos apontam este “Quanto Estou Amando” o filme que melhor celebra a carreira e talento de Gérard Depardieu. E esse é o motivo que me faz aguardar tanto pelo lançamento do longa em DVD (como de costume, não ganhou circuito em Santo André). E é impressionante a quantidade de longas que ele já marcou presença e toda a sua energia para estar com tantos longas acumulados a serem lançados. E eu também gosto da Cécile De France, uma francesinha que me chamou a atenção desde quando assisti “Alta Tensão”, do Alexandre Aja. Recentemente eu assisti um filme com o Depardieu chamado “De Bem com a Vida”, que é protagonizado pela Gena Rowlands e que conta com a esplêndida Marisa Tomei. Já viu?

Abraços, excelente semana!

Ademar de Queiroz (Demas) disse...

Rafael,
é um filme gostoso de ver... e ouvir. Foi mais do que eu esperava. E para quem gosta de acompanhar a subida dos créditos finais, há uma última cena esperando pelos mais pacientes.
Abração

Ademar de Queiroz (Demas) disse...

Alex,
não vi esse "De bem com a vida" não. A contar pelo elenco, o filme tem tudo para ser muito bom. E "Quando estou amando" parece mesmo ter sido criado para Depardieu brilhar. O que não é difícil: com um bom papel nas mãos, o francês dá um show sempre.
Abração