fevereiro 21, 2006

"Possessão"

(Possession, 1981 - Andrzej Zulawski)
Passados 25 anos do seu lançamento, "Possessão" ainda é um filme inquietante, tanto pelo que revela como pelo que esconde. A história começa com um casamento em crise, onde o esposo (Sam Neill) desconfia que sua mulher (Isabelle Adjani) tenha outro. E ela confirma. Abandona casa e marido, mas sempre volta - mais instável e desequilibrada - para ver o filho pequeno. O marido, por sua vez, se vê tomado pela obsessão de encontrar o pivô da traição. Em torno disso, vai surgindo um mundo paralelo à relação que um dia foi perfeita. Que monstro pode nascer da solidão, da traição ou da culpa? Traído e traidor não parecem ser as mesmas pessoas de outrora. Têm aparências semelhantes, mas são outras, com seus arrependimentos, medos e neuras. Que tipo de amor pode sobreviver a esse caos de sentimentos? Acho que são desses dilemas que Andrzej Zulawski quis tratar em "Possessão". Essa ambigüidade - que rodeia sentimentos e personalidades - está presente também na cidade que o diretor escolheu para rodar o filme: Berlim que - àquela época - eram duas, oriental e ocidental, dividida pelo Muro. A atuação de Isabelle Adjani é primorosa. A atriz parece ter mergulhado com vontade nas loucuras da personagem. E apesar de algumas tomadas daqueles olhos azuis serem de tirar o fôlego, sua beleza não é o foco principal das lentes do diretor. O fato é que ela conquistou a Palma de Ouro naquele ano. Enfim, com edição e movimentos de câmera que reforçam o desequilíbrio, a instabilidade e os delírios do casal em crise, "Possessão" é para ser visto e revisto várias vezes. Porque entender o amor e seus avessos não é nada fácil. Em tempo: esse mundo paralelo que a traição parece criar me fez lembrar de um outro filme, igualmente polêmico, questionador e belíssimo: "Reconstrução de um amor (Reconstruction, 2003)" do dinamarquês Christoffer Boe, também premiado em Cannes.

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Ícaro. Vou estrear os comentários desse post. Acabei de ver o filme. Estou com vontade de vomitar. Hehehehe. Vi com uma amiga que claramente não gostou do filme. Eu fiquei nervoso e com o estômago embrulhado o tempo todo, mas por trás de todo aquele horror, eu me senti hipnotizado e percebi outros significados por trás do que se via na tela. Adorei. Mas ainda não conseguirei escrever direito sobre Possessão.

A cena do metrô é ALGO, hein? Putz...

Adorei o que você escreveu. Me deu uns bons insights.

Abração,

Ademar de Queiroz (Demas) disse...

Moa, o filme não é fácil mesmo. Também tive essa sensação de ter gostado muito, mesmo sem saber falar direitinho o porquê. Depois, fiquei pensando alguns dias sobre o filme e cheguei a algumas conclusões, que acabei postando aqui. Que bom que eu escrevi esteja ajudando a buscar mais explicações para a obra. Quero ver o que você vai escrever sobre o filme, hein?! Ah, e a cena do metrô, que loucura! Abração.

Anônimo disse...

vou ter que criar coragem e ver esse flme depois que li o que voce e o Moa escreveram! :-) beijos,

Ademar de Queiroz (Demas) disse...

Oi, Fer. Seja muito bem-vinda! Crie coragem sim e depois me diga o que achou. Abração.